segunda-feira, 23 de março de 2009

Ogatta, Frank


“Na minha família, o principal foco de dedicação sempre foi voltado aos estudos. Meus avós e meus pais sempre valorizaram a educação. Somos uma família composta por médicos, engenheiros, dentistas, fisioterapeutas, professores universitários, funcionários públicos, bancários e empresários. A maioria tem profissão liberal e seus descendentes são estudantes. E, continuará sempre assim, de geração em geração, se Deus permitir.” (Frank Ogatta)
“Lembro-me bem da minha avó, Massako, contando como foi boa a vida nessa fase pré-guerra. Havia sucessão de bailes e festas, decorrentes da bonança e grande convivência com a alta sociedade. Meu avô tirava seus momentos de folga e jogava golfe com os amigos, levando meu pai como caddie. Deve ser por isto que até hoje ele não gosta de golfe.”
(Evelin, neta de Yoshio)




A família do médico Frank Ogatta é proveniente de Saga-Ken, na ilha de Kyushu, sul do Japão. Os avós paternos, Yoshimatsu e Riki Ogatta, vieram como imigrantes em 1914, trazendo dois filhos: Yoshio, com sete anos (que viria a ser o pai de Frank) e Minoru com cinco anos. A viagem transoceânica levou cerca de dois meses. Foi bastante cansativa, sem conforto, pois as famílias ficaram acomodadas, em beliches improvisados, no porão do navio cargueiro. Desembarcaram em Santos e foram transportados para a região Mogiana, nordeste do Estado de São Paulo.
Quatro anos depois, com a economia adquirida no trabalho como colonos, a família arrendou um pequeno sítio em Promissão (cidade paulista) e continuou na lavoura, iniciando também um trabalho com toras e madeiras. Nessa época, o casal já tinha mais três filhos: Issamu, Hatsue e Mitsuo. A vocação para os estudos e a idéia visionária de integração estimularam Yoshimatsu e Riki a matricular seu primogênito num colégio interno dirigido por padres, em Botucatu, diferente da maioria dos imigrantes que se satisfaziam em ensinar o japonês em escolas da colônia. “Meu pai tinha muito orgulho de sua fluência em português, dizia sempre que costumava assistir a tribunais do júri para aprender todas as nuances da língua culta”, lembra Frank. Essa fluência na língua portuguesa seria decisiva na evolução da família.
Com o passar dos anos, montaram uma serraria e aumentaram o capital. Em 1926, os Ogatta deixaram a lavoura e transferiram residência para Presidente Prudente, na região da Alta Sorocabana. Adquiriram terreno na cidade, construíram uma casa de alvenaria e iniciaram o comércio de secos e molhados. Foi uma época de grande fartura, o negócio cresceu, chegando a possuir, além da casa comercial, uma serraria, máquina de beneficiar cereais, três caminhões e dois automóveis, incluindo um dos seis Oldsmobile que existiam no território brasileiro. Em 1934 Yoshimatsu inventou a plantadeira (máquina manual que abria a cova e deixava cair o número correto de sementes e as encobria de terra). Foi um sucesso!
Em 1928, Yoshio casou-se com Massako. O casal mudou-se para Presidente Prudente e depois para Paraguaçu Paulista, onde montou outra serraria. Os negócios da família com o comércio continuaram a progredir, e, como naquele tempo as importações e exportações de mercadorias eram feitas somente pelos corretores de câmbio e não pelos bancos, Yoshio mudou-se para São Paulo para trabalhar como corretor de câmbio, com a esposa e três filhos: Frank, Noemia e Alice. Yoshio foi o primeiro corretor de câmbio japonês no Brasil.
A família tinha importante papel na comunidade, ajudando a difundir esportes como o judô e o beisebol, músicas e danças tradicionais japonesas como o minnyô, nanyabushi e odori, e, principalmente, solidificando as associações nipo-brasileiras. Com a guerra, em 1942 , Yoshio foi impedido de continuar a trabalhar como corretor. “Havia uma discriminação muito grande”, diz Frank, que em 1946 voltou sozinho para São Paulo. Depois mudou-se para o Rio, onde fez o curso de Medicina na Universidade do Distrito Federal no Rio de Janeiro. Na mesma época, Mitsuo, caçula da família, formava-se em Odontologia.
Em 1953, aconteceu uma grande virada na família Ogatta. Yoshio, como morador antigo e bem conceituado na cidade, era solicitado pelos bancos a ser avalista de financiamentos a agricultores imigrantes. Com a forte geada que dizimou as lavouras, todos os agricultores ficaram endividados e muitos não puderam honrar suas dívidas bancárias. E ele, como avalista, pagou dezenas de empréstimos, perdendo todos os bens que havia acumulado no decorrer dos anos. A família mudou-se para Curitiba, onde adquiriu uma fábrica de doces.
“Eu terminei a faculdade no Rio de Janeiro, fiz especializações e fiquei trabalhando na própria Universidade. Em 1957 fui trabalhar em Uraí e acabei ficando de vez. Conheci minha esposa Toshico, Miss Colônia Brasil, filha dos fundadores de Assaí, cidade vizinha de Uraí”, conta.
Frank e Toshico mudaram-se para Londrina em 1962. Ele foi um dos fundadores e presidente da APROL, presidente da ACEL, coordenador do Departamento Médico da Aliança Cultural Brasil Japão, e um dos principais incentivadores do Programa de Medicina Preventiva Itinerante, patrocinado pela JICA (Japan International Cooperation Agency). Foi também secretário da Associação Médica de Londrina na época em que se cogitou a fundação da Faculdade de Medicina.
O casal tem quatro filhos. “Evaldo, o primogênito, é cirurgião plástico com especialização em microcirurgia na Universidade de Tokyo. Evelin, também é médica e atual coordenadora do colegiado do curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina. Evelise é fisioterapeuta e docente da Faculdade CESCAGE – Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais, além de ser chefe do serviço de fisioterapia nos hospitais de Ponta Grossa. Evenilde, formada em Educação Física, fez parte da equipe de GR – Ginástica Rítmica, da UNOPAR – Universidade Norte do Paraná, sendo campeã nacional. Também foi técnica da Seleção Brasileira e hoje é coordenadora educacional do Colégio Sepam, em Castro”, relata o pai, orgulhoso. A terceira geração da família Ogatta engloba 29 sanseis. A quarta geração é formada por 40 yonseis. “Todos os descendentes da família Ogatta estão perfeitamente integrados à sociedade brasileira, mas não se esquecem da sua origem. Nós herdamos esta vontade de estudar dos meus pais. Sem dúvida, o maior legado da nossa família é a educação”, conclui.

Um comentário:

  1. Gostaria de saber se o Sr Takinojo Ogata, nosso bisavô é parente de vocês.
    Obrigada
    Abs

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