segunda-feira, 23 de março de 2009

Numata, Shiroko


“Minha mãe sempre fez questão de manter os hábitos japoneses. Em casa nós todos falávamos somente em japonês. Ainda hoje a comida é oriental e ela pratica o ritual de oração. Ela faz sua homenagem diária aos antepassados diante do santuário. Minha mãe, aos 90 anos, está lúcida e participativa.”
(Shiroko Numata)


“Eu trabalhei muito quando cheguei ao Brasil, tinha 17 anos. No começo tinha muita saudade dos meus familiares, mas o tempo foi passando e eu fui me habituando. Graças a Deus tivemos uma vida próspera no Brasil, o que me facilitou voltar ao Japão por cinco vezes e rever meus parentes.”
(Toshiko Numata)




Hokkaido é a maior província do Japão e se localiza na ilha ao norte do arquipélago. Mais de 70% da província é coberta por florestas e por isso pode ser definida como um imenso parque natural. No inverno, Hokkaido se cobre totalmente de neve tornando-se o paraíso dos esquiadores. Foi lá que nasceu e residiu durante alguns anos Toshiko Numata. Ela deixou a cidade de Sapporo, com 17 anos, e depois de 2 meses aportou no Brasil. “Era o comecinho da década de 30. Foi uma viagem alegre. Toda família estava junta e nos portos, quando parávamos, fomos conhecendo diversos países”, conta ela, com 90 anos, lúcida, ativa e com recordações do tempo que viveu com o marido no sítio Quati, em Londrina. “Meu marido, Teisaku Numata, imigrou em 1932 a bordo do navio Arizona Maru. Eu vim no ano seguinte a bordo do navio Rio de Janeiro.aNossos pais se conheciam de Hokkaido. Mas quando cheguei no Brasil fui para a região de Bastos. Fui reencontrar meu marido em Londrina, em 1939. Nos casamos e fomos morar na Colônia Central”, recorda a imigrante Toshiko.
Na Colônia Central o casal permaneceu até 1951 e foi onde teve quatro filhos: Shiroko, Kenji, Jorge e Ana. “A família trabalhou arduamente no Brasil. Eu acordava às 5 horas , fazia comida, atendia os filhos. Como manda o costume japonês, morávamos todos juntos e a minha sogra ajudava na educação dos filhos quando eu ia para a roça com o marido”, diz.
A família Numata prosperou e aos poucos foi adquirindo diversos imóveis. A primogênita, Shiroko, advogada, conta. “Minha mãe sofreu muito no início, quando chegou ao Brasil. Ela era de uma família de posses no Japão, nunca tinha passado qualquer tipo de necessidade. Tinha uma vida privilegiada. Minha avó tinha diversos empregados. Mas foi corajosa e venceu todos os obstáculos da língua, costumes e hábitos. E criou os filhos muito bem”, comenta.
Em meados de 1952, a família Numata adquiriu uma residência na Avenida Higienópolis, em Londrina. “Era uma casa grande, onde crescemos, vivemos momentos bons. Meu pai morreu em 1992 e a minha mãe reside com meu irmão Jorge, responsável pela administração dos bens da família. Meus irmãos Kenji e Ana são falecidos. Dona Toshiko conta: “O começo da nossa vida foi duro. Quando conseguimos juntar um dinheiro, meu marido comprou 8 alqueires de terra. Naquela época dava para guardar, tínhamos pouca despesa. Aí fomos prosperando.”
Participante ativa da colônia, dona Toshiko é diplomada na escola de ikebana Ikenobô. Há 30 anos é uma expert na bela arte de arranjo floral de origem japonesa conhecida no mundo todo. Uma expressão artística muito apreciada e onde o homem simboliza o céu, a terra e a si mesmo usando ramos, folhas e flores encontrados na natureza. Os arranjos mostram segurança na estrutura, equilíbrio na forma e harmonia nas cores. Acima de tudo, mostram que o homem é capaz de transformar coisas simples em obras de arte. A filha Shiroko é uma das grandes admiradoras do talento da mãe. “Ela chegou a dar aula e faz arranjos lindos. Meu pai faleceu com 77 anos e foi o único civil convidado para a cerimônia de coroação do atual imperador, em 1990, no Japão, quando recebeu uma comenda”, recorda.
Shiroko Numata é uma destacada advogada londrinense. Fez seus estudos em Londrina, nos colégios Hugo Simas, Mãe de Deus e Instituto Filadélfia. Cursou a Faculdade de Direito na UEL e se formou em 1963. Especializou-se em Direito Bancário e atua também em Direito da Família. O marido, Fagundes Barnabé, faleceu em 2006. “Nós nos casamos em 1975, ele foi um grande companheiro. Trabalhávamos juntos”, diz.
A advogada Denise Nishiyana Panisio, filha de Shiroko, é casada com o advogado Sandro Panisio. Eles têm um casal de gêmeos, Caio Yuuki e Amanda Shiroko, com 2 anos e meio. “Yuuki significa coragem, destemido. É um nome forte, que tem grande significado para mim. Amanda recebeu o nome da avó, Shiroko, em sua homenagem, como um tributo à sua pessoa, sempre positiva e corajosa, em todos os momentos da vida. Estamos sempre envolvidos com os gêmeos, temos uma vida em família, minha mãe adora os netos, procuramos estar sempre juntos, e trabalhamos no mesmo escritório, Shiroko Numata & Advogados Associados. Além disso, minha mãe, eu e meu marido somos participantes ativos da OAB”, conclui.

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