segunda-feira, 23 de março de 2009

Egashira, Miyoshi


“Eu era adolescente e meu pai falou algo que ficou gravado na mente e no coração. Depois de ver Tóquio destruída e queimada por causa da guerra, em 1950, alertou que todos nós deveríamos ter uma atitude útil à sociedade. Que deveríamos semear coisas boas porque um dia elas iriam brotar.”
(Miyoshi Egashira)




O senhor Miyoshi Egashira irá completar 74 anos. Mas aparenta menos idade e é dono de uma vitalidade admirável. Há muitos anos dispensou o carro, faz diariamente sua caminhada, é faixa preta em judô e kendô, acorda cedo, faz seu ritual de concentração e aos domingos cozinha para toda a família. E tem uma memória ótima. Filho de Yoshico e Taneo Egashira, ele tem boas recordações da família, que durante muitos anos trabalhou na região de Lins, no interior paulista.
A saga da família Egashira se confunde com a história de centenas de imigrantes japoneses que aportaram no Brasil em busca de prosperidade. “Meu pai veio com os meus avós para o Brasil quando tinha apenas 11 anos. Eles chegaram ao Porto de Santos na manhã de 20 de abril de 1917, vindos da Província de Saga-Ken. Meus avós Haya e Taichi Egashira embarcaram com os filhos no navio a vapor Wakasa Maru. “Era um cargueiro com 70 toneladas”, conta Miyoshi, segundo filho do casal Egashira.
No Brasil foram levados de trem à região Mogiana. Depois de permanecerem 5 anos na Fazenda Buenópolis, na cidade de Cravinhos, mudaram-se para Catanduva e depois para Lins, onde os pais de Miyoshi viriam a se casar. “Após 10 anos de vida de colono, a família Egashira conseguiu comprar 30 alqueires de terra na Colônia Aliança”, recorda. “Dois anos depois, meu pai compraria seu primeiro caminhão. Com a revolução de 1930 o caminhão foi confiscado.E foi devolvido para ele em 1934, mas apenas o motor e o chassi. Meu pai acabou vendendo para dar entrada em 20 alqueires na Gleba Bandeirantes, em Rolândia. Naquela época éramos eu, meu irmão mais velho e meus pais”, completa. Mais tarde o local foi batizado pelo próprio Taneo, com o nome de Colônia Kyoei, que significa “Progresso com Unidade’’.
Taneo Egashira foi um dos fundadores de Rolândia, fundador do Rotary Club daquela cidade e primeiro imigrante a ser presidente rotário, em 1961. A família prosperou e teve fazenda em Paranavaí. Sempre preocupado em dar os melhores estudos aos filhos, Hatsuyo, Sussumu, Yaeko, Iwao, Yoiti, Yoshitane, Takatoshi, Massaru e Miyoshi, o imigrante Taneo trabalhou incansavelmente deixando um legado de honestidade e dedicação. “Admiro muito meus pais. Todos os filhos tiveram a formação do curso secundário e quatro formaram-se no curso superior”, relata.
Saudosista, Miyoshi Egashira relembra os anos passados na fazenda de café quando, ainda criança, ajudava os pais no trabalho da lavoura. “No setentrião paranaense, cercado pela densa floresta tropical, passei a infância descalço, sem muita comodidade e convivendo com as adversidades da natureza. Com 13 anos, na época áurea do café, pude me mudar para Londrina a fim de estudar. Na época, ainda existia o resquício da 2ª Guerra Mundial. Eu ouvia constantemente as palavras discriminatórias, apesar de ter nascido no Brasil. Foi um tempo difícil para os japoneses”, recorda. Em 1958, após concluir o curso colegial, Miyoshi foi para Curitiba onde fez o curso de Economia. “Mas durante o curso eu trabalhei como desenhista, projetista, jardineiro, tipógrafo, impressor, professor de língua japonesa, decorador, motorista de Kombi e fui admitido numa empresa de Organização e Sistematização de Empresas. Em 1961, fui nomeado tradutor público juramentado.”
Em 1964 ele casa-se com a professora Hisako. “Em 1963 eu havia feito uma prova seletiva para intérprete bilíngüe da Empresa Usiminas e fui aprovado. Mas, como já trabalhava na empresa de organização e com casamento marcado para janeiro do ano seguinte, permaneci em Curitiba. E sempre fiz questão de me especializar, estudar, aprender. Retornei a Londrina em 1966, quando o então deputado federal Antonio Ueno me pediu para organizar uma financeira, a Paranacrédito S.A – Financiamento, Crédito e Investimento. Depois fundei a Distribuidora Nikkei e fui sócio gerente da Farmácia Sergipe, Restaurante San Remo, LC Cosméticos Ltda. e trabalhei na construção e organização do Hotel Nikkey e Restaurante Tsubaki, em São Paulo.”
Tendo viajado várias vezes para os Estados Unidos, Europa e Japão, quando participava de seminários internacionais, Miyoshi fez um curso de orientação e treinamento na área da Medicina Preventiva e Assistência ao Idoso. “Isso foi em 1983, quando viajei a convite do governo do Japão. Depois que retornei, percorri todo o rincão paranaense para contar com as Associações Nipo-brasileiras e implantar o sistema de Medicina Preventiva no Paraná. Cheguei a viajar mais de 50 mil quilômetros em 10 anos, com uma equipe de 40 pessoas, entre médicos, bioquímicos, fisioterapeutas, nutricionistas, laboratoristas e enfermeiras. Foi um trabalho árduo, mas extremamente gratificante”, comenta.
Por mais de 20 anos foi diretor da ACEL – Associação Cultural e Esportiva de Londrina e atualmente é representante da Cidade de Nishinomiya, no convênio de cidade co-irmã entre Londrina e Nishinomiya. E é membro consultivo da Aliança Cultural Brasil Japão do Paraná. Hisako e Miyoshi tiveram duas filhas: Denise, casada com Mário. Ambos são funcionários públicos. Sandra é psicóloga, atua em clínica e como consultora de recursos humanos. É casada com Marcelo, que dirige um bar restaurante em Londrina. “Temos três netos, Amanda, com 8 anos, João Pedro, 4 anos, e Vivian, 1 ano e meio”, conta orgulhoso.
Como lazer, Miyoshi reúne a família aos domingos e faz questão de cozinhar. “Faço de tudo um pouco e tenho prazer em ver minha família reunida. Lembro que minha mãe cozinhava para o meu pai e todos os filhos homens, numa época dura da lavoura, sem regalias. Eu ajudava minha mãe e aprendi com ela a preparar pratos japoneses. Na verdade, cozinhar me faz muito bem. É como uma terapia”, conclui.
Taneo Egashira faleceu em 1988, com 82 anos. Trabalhou incansavelmente em prol da comunidade e em abril de 1978, ano comemorativo dos 70 anos da imigração japonesa, foi agraciado com uma Comenda do Imperador do Japão “Kyokujitsusho”, que significa “Ordem do Sol Nascente”. Dona Yoshico faleceu em 1987.

2 comentários:

  1. Esta historia de luta e vitoria lembra muito a vivida por meus familiares.
    Também pertenço a familia Egashira, mas não tenho vinculo com a familia do senhor Miyoshi Egashira.
    Gostaria muito de parabenizar a historia escrita com detalhes e riqueza em emoções.
    Marcos Jitsuo Egashira

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  2. Linda historia, eu sou tbm da familia egashira, porem não conhecia a historia. Taneoé meu bisavô, sendo Massaru meu avô
    Parabens pela historia e tambem por mostrar a influencia da familia Egashira no norte do Paraná.
    Newton Toshio Egashira

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