sexta-feira, 20 de março de 2009

Yoshida, Júlia Keiko


“Meu pai tem 87 anos e mora comigo. Ele faz atividade física, é lúcido, conversa bastante, lembra com detalhes da sua aventura a bordo do navio Montevidéu. Sempre aprendo com ele. Ele e minha mãe foram exemplo de luta e determinação. Criaram os filhos numa época difícil, enfrentando muitas adversidades. E foram vitoriosos.”
(Júlia Keiko Yoshida)



Eles são provenientes da Província de Kochi. E também vieram atraídos por um sonho de uma vida melhor e, com o apoio dos governos do Japão e do Estado de São Paulo, abriram mão de sua pátria e aportaram em Santos, a bordo do navio Montevidéu, em 1933: Kintaro e Umee Yoshida. Aqui constituíram família e permaneceram, fazendo do Brasil a sua moradia para sempre. Quem relata a história da família é Júlia Keiko Yoshida, filha de Hatsue e Isao Yoshida. “Meu pai tinha 13 anos quando veio para o Brasil. Meu avô tinha uma oficina de tecido no Japão onde trabalhava com a minha avó. Eles almejavam se tornar prósperos no Brasil. Mas quando aqui chegaram, foram para a região de Martinópolis (SP) trabalhar na lavoura. Meu pai, que é vivo e que completa 88 anos em outubro deste ano, conta que aos 13 anos era mais alto que o comandante do navio”, diz Júlia, casada com Ling Xiao Ming, à frente da Yoshida Turismo, inaugurada em 1988.
Kintaro e Umee tiveram 5 filhos. “Mas para o Brasil vieram apenas quatro. O primogênito ficou no Japão servindo o exército e veio a falecer na guerra da China”, explica Júlia. Já radicados no Brasil, Kintaro contava histórias relembrando a aventura no navio. “Ele relatava ao meu pai que até hoje recorda da viagem de quase dois meses em alto-mar. Uma das boas lembranças é que ao aportarem no Cabo da Boa Esperança, Kintaro foi pescar camarão e eles vinham como que em enxurradas. Meu pai ficava assistindo maravilhado, porque era muita fartura, muito camarão. Ele se recorda disso até hoje e toda vez que sirvo camarão ele conta essa historia.”
Em Assaí a família Yoshida radicou-se. Lá nasceram os 8 filhos de Hatsue e Isao: Francisco, Nelson, Luiza, Júlia, Tikao, Henrique, Elena e Terezinha. “Meu pai tinha uma propriedade rural, um sítio no município de Assaí, secção Cebolão. Eu e meus irmãos viemos para Londrina em 1973 e meus pais, no ano seguinte. Eles tinham que terminar de colher a safra e ficaram. Quando aqui chegaram se mudaram para a Vila Casoni. Meu pai comprou a casa de um japonês que fazia tofu e deu continuidade ao negócio porque adquiriu todo o maquinário. Minha mãe tinha banca de salgados na feira livre, e eu ia ajudá-la, antes de ir ao meu trabalho”, recorda.
Os avós maternos, Sue e Yukie Okamura, também são da Província de Kochi. “Minha mãe nasceu no Brasil, no interior de São Paulo. Quando meus avós se mudaram para o Brasil, vieram acompanhados de dois filhos que vieram a falecer ainda crianças. Depois faleceu meu avô. Minha avó ficou viúva jovem e casou-se novamente, com o senhor Hatiro Koga, tendo mais seis filhos. O interessante é que após casar-se pela segunda vez, a família Okamura não deixou que minha avó levasse minha mãe para morar com o casal. Minha mãe foi criada pelos parentes porque era a única herdeira da família. E só mais tarde, quando minha mãe entrou na escola, é que os familiares contaram quem verdadeiramente era a mãe dela. Quando jovem sofreu muito por ser órfã. Acredito que ela viveu feliz com o meu pai porque ele sempre foi muito dedicado e carinhoso. Eu me recordo da minha avó materna, mesmo ela tendo falecido quando eu tinha apenas 4 anos”, diz Júlia.
Membros da Igreja Tenrikyo, com sede em Assaí, Júlia e Ling Xiao Ming fazem questão de preservar as tradições culturais japonesas. “Meu pai mora conosco. Com mais de 80 anos é um homem ativo, pratica musculação com um personal trainner e natação 3 vezes por semana. Em 2006 viajou comigo para a China e Japão. O sonho dele era conhecer a Muralha da China. E graças a Deus o sonho foi concretizado. Eu fiz questão de acompanhá-lo pessoalmente. Infelizmente minha mãe faleceu muito nova, aos 69 anos, em 1997.”
Júlia Keiko Yoshida é empresária no ramo de turismo, guia de turismo da Embratur, despachante do Consulado Geral do Japão em Curitiba e, através da Yoshida Turismo, leva grupos para conhecer a Terra do Sol Nascente e encaminha os brasileiros descendentes a trabalhar naquela terra também. “Fazemos isso há 20 anos, com sucesso. Resultado da credibilidade que conquistamos junto ao mercado londrinense e do Paraná. Este ano em que se comemora o centenário da imigração japonesa no Brasil iremos comemorar os 88 anos do meu pai e os 20 anos da minha agência de turismo”, conclui.

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