segunda-feira, 23 de março de 2009

Kanashiro, Roberto Yoshimitsu


“Minha mãe acaba de completar 85 anos. Japonês comemora algumas datas que consideram mais significativas – o Toshibi. Uma tradição que marca um ciclo a cada 12 anos da vida da pessoa. Nos reunimos em torno dela: filhos, noras, genros, netos. Procuramos manter esse laço, essa união. A família é algo muito importante.”
(Roberto Kanashiro)

“O espírito de família vem desde os meus avós. Minhas irmãs mais velhas ficaram em Cornélio Procópio trabalhando ao lado dos meus pais e contribuindo financeiramente para os irmãos mais novos estudarem. Sou muito grato a isso.”

(Roberto Kanashiro)



Ainda criança, Yoshio Kanashiro embarcou para uma viagem que mudaria os rumos da sua vida. Naquela época, aos 5 anos, ele ainda não entendia o projeto de vida dos pais, Nae e Hoei Kanashiro, que deixaram a cidade de Okinawa, no Japão, para aportar no Brasil em busca dos sonhos de uma terra próspera. Isso foi em 1918, quando o casal, acompanhado do filho pequeno, fazia parte de mais uma leva de imigrantes japoneses.
Ao chegarem ao Brasil, o destino de Nae e Hoei Kanashiro foi igual ao de todos os japoneses que desde 1908 desembarcavam no porto de Santos, trazendo como bagagem poucas peças de roupas, pequenas lembranças e muita esperança.
O casal, depois de trabalhar em Mogi das Cruzes (SP), foi para Itambaracá, onde estabeleceu-se na Fazenda Barbosa. A cidade é próxima a Andirá e Cornélio Procópio, onde, com o passar dos anos, a família comercializava cereais e café. Em 1947, mudam-se para Cornélio, já donos de uma propriedade rural. O pequeno Yoshio cresceu vendo os pais trabalharem muito, um exemplo que procurou seguir a vida toda.
Em 1939 ele casa-se com Tie. O casal teve 12 filhos. Entre eles, o médico Roberto Yoshimitsu Kanashiro, que deixou Cornélio Procópio para estudar em Curitiba e posteriormente fazer faculdade de Medicina em Manaus (AM). “Foi um tempo muito bom, fiz grandes amigos e me dediquei aos estudos. Sabia do sacrifício dos meus pais e irmãs para eu estudar. Depois de formado, morei em São Paulo durante 3 anos, onde me especializei em cirurgia geral. No início da década de 1980 retornei a Londrina e daqui nunca mais saí”, ressalta.
Roberto casou-se com Lídia Uesu Kanashiro, com quem teve dois filhos, Fernanda Mayumi Kanashiro e Rafael Yoshio Kanashiro, ambos estudantes de Medicina. É dedicado à família e faz questão de mantê-la unida. “É uma tradição que vem desde os meus avós. A família é o que a gente tem de mais importante na vida. Somos 12 irmãos. Infelizmente perdi uma irmã ano passado. Mas continuamos nos encontrando, nos reunindo e cuidando da nossa mãe.”
Roberto Kanashiro também é membro e diretor da Associação de Intercâmbio Londrina Nishinomiya. Exerce hoje o seu 4º mandato como vereador. Foi presidente do Diretório Municipal do PSDB, em 1999/2001. Em 2002 foi vice-presidente da Comissão dos Direitos Humanos e de Defesa da Cidadania e membro da Comissão de Seguridade Social e líder da bancada do PSDB para 2001 e 2002. Em 2003, assume a vice-presidência da Comissão de Ciência e Tecnologia e a liderança do PSDB no Legislativo. Foi reeleito para a 14ª Legislatura pelo PSDB.
Ele e os irmãos com certeza herdaram o mesmo espírito do pai Yoshio, falecido em 1970. Quando veio para o Brasil, Yoshio deixou não apenas os parentes e amigos, mas uma cidade onde o povo até hoje valoriza a família e a comunidade e tem um relevante sentimento de união e principalmente de gratidão e respeito aos mais velhos.
O legado da cultura de Okinawa exibe desde o caráter familiar, “intimista”, coletivista e de cooperação das antigas vilas e aldeias, até a reverência e a elegância que eram oferecidos à nobreza do seu antigo Reino. O povo de Utiná (Okinawa em dialeto) resiste heroicamente, insistindo naquilo que lhe é mais precioso, a singularidade de sua cultura e do verdadeiro espírito “utinanchú”. Com toda certeza foi esse o legado que o imigrante Yoshio deixou para os filhos, a rica cultura de Okinawa, que atravessa séculos de forma indelével, sendo transmitida de geração em geração.

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