segunda-feira, 23 de março de 2009

Kyosen, Noboru


“Meu marido incentivava a leitura, o conhecimento. Nós morávamos em Jataizinho, trabalhávamos muito na lavoura. E quando ele vinha a Londrina comprava livros para as filhas. Não comprava brinquedo, fazia questão de mostrar a importância dos estudos.”
(Chisato Shimizu Kyosen)


“Meu pai sempre vislumbrou o futuro. Era um homem humilde, justo e visionário. Faleceu aos 92 anos e deixou um belo exemplo.”
(Missae Kyosen Nakayama)




Foi no início da década de 1920 que a família Kyosen aportou no Brasil depois de uma longa e cansativa viagem a bordo do navio Kanagawa Maru. Issamu Kyosen, o patriarca, era casado com Tome Kyosen e pai de Fujie, Sakae, Noboru, Assako e Sussumu. No Brasil, a família enfrentou as adversidades de viver num país completamente oposto a tudo que conhecia. “Meu marido contava que a família toda sofreu com a diferença da língua, dos costumes, das tradições, com o preconceito. Assim como a minha família, Shimizu, que para cá veio a bordo do navio Hawae Maru”, recorda Chisato Shimizu, a primogênita de Tyoiti e Yoshino Shimizu, hoje com 87 anos.
Dona Chisato tem boas lembranças da viagem a bordo do navio de carga. “Eu era muito arteira, tinha 5 anos, e todos os dias ganhava fatias de abacaxi de um dos tripulantes. Eu corria pelo convés, brincava muito. Foram 60 dias em alto-mar, mas não tenho uma recordação ruim, ao contrário, para uma criança aquilo tudo era uma aventura”, ressalta. Chisato teve três irmãos: Kikue, Koojiro e Tsuruo.
A imigrante conta que o pai, Tyoiti, era um boêmio e gostava de amanhecer em casas de jogos. “Meu pai jogava e acabamos falindo. Tivemos que vir para o Brasil em busca de prosperidade. Nós chegamos na Fazenda Santa Rita, na Vila Bonfim, em Mogi das Cruzes (SP) e lá permanecemos durante 8 anos. Meu pai faleceu 5 anos após chegar ao Brasil. Aqui ele trabalhava muito para juntar dinheiro e voltar para o Japão”, conta. A família transferiu residência para Campinas onde começou a plantar algodão. Depois de 3 anos, mais uma mudança, desta vez, para a Fazenda Roseira, em Assaí, no Norte do Paraná.
A família Kyosen orgulhava-se de ser a única a ter caminhão e telefone quando residia na Fazenda Cantagalo, região Mogiana, onde pais e filhos trabalharam como colonos durante 10 anos. “Meu sogro, Issamu, comprou terras naquela região, prosperou e participava de atividades sociais e filantrópicas da colônia japonesa. Deixou um bonito legado para os filhos’, recorda Chisato, que se casou com Noboru Kyosen (terceiro filho de Tome e Issamu Kyosen) em 21 de dezembro de 1939. “Nossas famílias eram amigas, conheciam-se da Fazenda Santa Rita e Fazenda Cantagalo, que eram próximas. Meu sogro morreu em 1939 e minha sogra retornou para o Japão no ano seguinte.”
A vida do casal Chisato e Noboru foi um exemplo de luta, perseverança e conquista. Eles tiveram 9 filhas: Yoshie, Norie, Missae, Satoe, Yukie, Natsue, Kiyoko, Adélia e Eunice. As filhas foram criadas lendo muito, dominando o idioma japonês, sendo bem informadas. Legado deixado pelo pai que lia diversos livros e jornais como o Estado de S. Paulo, além de outros periódicos japoneses. “Nós nos mudamos para a Fazenda Coqueiro, em Jataizinho, em 1944. Fomos cultivar café. Meu marido sempre foi muito trabalhador. Eu me lembro que durante 1 ano, em Jataizinho, ele abriu “picada” sem ver qualquer pessoa. Trabalhava o dia todo. A gente se mudou para Lobato, no Paraná, em 1952 e ficamos até 1966. Meu marido se preocupava com os estudos dos filhos e Londrina era a cidade próxima que tinha recursos. Ele vislumbrava o futuro dos filhos, uma coisa muito bonita de se ver, recordar e contar”, diz a matriarca que se orgulha em revelar: “Todas as minhas filhas foram amamentadas até o primeiro ano de vida, muitas vezes embaixo do pé de café., Eu nunca dei mamadeira, fazia questão de amamentar”, conclui. Em 1966 a família abriu a Casa Roseira, no Jardim Bandeirantes, em Londrina. Dona Chisato permanece lá até hoje.

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