segunda-feira, 23 de março de 2009

Fuzioka, Tero


‘‘Quando eu era criança, ajudava meu pai na lavoura. Ele adquiriu uma propriedade de 30 alqueires em Araçatuba e eu me recordo o dia em que pela primeira vez vi um avião. Eu tinha 6 anos e fiquei encantado.’’
(Tero Fuzioka)


‘‘No Brasil, quando morávamos no sítio, meus pais nos trancavam em casa porque tinham medo que os mascates nos levassem embora.”
(Kazumi Fuzioka)




Eles eram jovens na época. Mas gravaram na memória cada apito do vapor Wakassa Maru, as escadas do navio, as brincadeiras a bordo. Traziam junto à pouca bagagem, entusiasmo e esperança. Com o passar dos anos tiveram que conviver com as desventuras e as decepções sofridas em solo brasileiro. Miyono e Akira Miyazaki casaram-se no Japão para vir ao Brasil. Ambos eram provenientes da Província de Kumamoto e aportaram em Santos em 26 de maio de 1913. O filho Tero Fuzioka conta a trajetória da família: “Meu pai levou o sobrenome da minha mãe porque na família dela havia apenas mulheres. Queriam dar continuidade ao sobrenome. O Miyazaki era herança da minha mãe, mas o sobrenome original do meu pai é Fuzioka. Igual ao meu’’.
Quando Tero Fuzioka nasceu, em 1º de fevereiro de 1929, a pessoa encarregada de fazer o registro era um amigo do senhor Akira. “Eles eram amigos desde a época de solteiros e conhecia meu pai apenas por Fuzioka. Aí ele ficou de me registrar Tero Fuzioka. Mas aconteceu uma coisa engraçada. Eu fui registrado apenas com o primeiro nome – Tero – e me tornei de fato Fuzioka quando cursava o primário e o professor acrescentou por conta própria. Sou o único da família a ter o sobrenome original do meu pai. Meus pais tiveram 15 filhos. Eu sou o sétimo filho e tenho 79 anos”, completa.
Chegando ao Brasil, o casal Miyono e Akira foi enviado a Birigüi, no interior de São Paulo. A família adquiriu um sítio de 7 alqueires e plantava café, depois mudou-se para Araçatuba. “Até os 11 anos eu morei no sítio e freqüentava a escola de lá. Mas foi em 1941 que eu fui para São Paulo continuar meus estudos. Eu trabalhava de manhã e estudava à tarde. Fui morar num internato, fiz curso de contabilidade na Faculdade de Santana e Escola Técnica do Comércio. Meus irmãos e pais continuaram trabalhando na lavoura até 1948. Depois se mudaram para Piacatu, próximo à cidade de Bilac, no interior paulista. Eu saí de casa em 1941 e nunca mais voltei. Fui para Maringá em 1952 onde me casei com Kazumi e lá residimos durante 17 anos”, conta.
Kazumi, filha de Yassube e Taneko Kague, tinha um salão de beleza e Tero trabalhava no comércio. Tiveram 3 filhos, Áurea, Alberto e Alcides, 10 netos e 3 bisnetos. “Meu pai morreu em 1971 com 73 anos. Eu trabalhei em Maringá, depois em Umuarama, numa empresa de ônibus. Graças a Deus tive condições de dar bons estudos para os meus filhos. Trabalhei em Umuarama até me aposentar em 1984.”
O casal atualmente reside em Londrina e adora pescar. “É meu passatempo preferido. Eu costumo pescar no Pesque Pague ou Rio Paraná. Também trabalhei na Associação Cultural Esportiva de Umuarama. Quando meu filho Alberto, que é médico, terminou a residência, optou por Londrina, onde viemos morar. A gente preserva a família, gostamos de estar juntos. Adoramos a companhia dos netos”, revela.
Kazumi e Tero casaram-se em 16 de outubro de 1958. Ela sempre foi dona de casa e conta que a mãe, no Japão, trabalhava como fotógrafa. Recorda que a mãe relatava sobre a vida difícil junto à lavoura e as primeiras impressões que a família teve ao desembarcar em Santos. “Minha mãe contava que ao entrarem no trem que os levaria para as fazendas na região Mogiana, ganhavam mortadela. Os japoneses nunca tinham visto aquilo e não suportavam o cheiro. E acabavam jogando tudo pela janela”, conta Kazumi, que criou os filhos na igreja católica, não tem oratório budista em casa, mas continua a tradição dos pais servindo comida japonesa e falando o idioma japonês. “Mas meus netos reclamam da comida japonesa. Os filhos gostam. Então eu tenho que fazer de tudo um pouco para agradar a todos”, conclui.

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