segunda-feira, 23 de março de 2009

Hirayama, Kozue
















“Meu pai era dotado de uma sensibilidade extraordinária que às vezes entrava em choque com a rígida educação que recebera no Japão. Criou os filhos tendo como base os valores fundamentais como respeito, integridade, moral e justiça, aliados a conhecimentos. Costumava dizer que a mente é um campo fértil que precisa ser cultivado com conhecimentos e bons pensamentos para não dar espaço às ervas daninhas.”
(Kozue Imai)


“Minha mãe viveu até os 99 anos de forma saudável e dinâmica, com o espírito alegre de uma criança. Deixou muitas lições de vida que sempre irão inspirar as gerações futuras pelo seu legado de entusiasmo. Por trás de sua figura frágil e delicada se escondia uma mulher forte e decidida capaz de enfrentar qualquer dificuldade. Deixou uma frase para reflexão: “Se você tiver tempo sobrando para ver os defeitos dos outros, vá olhar e cuidar do próprio cotovelo.”
(Kozue Imai)





Em setembro de 1936 a família Hirayama empreendeu a grande aventura que tinha como destino o Brasil. “Lá o dinheiro brota em árvore” foram as palavras ouvidas pelas famílias japonesas ávidas em busca de prosperidade e melhores condições de vida. Os tempos estavam difíceis no Japão. A primeira viagem a bordo do vapor Masato Maru, em 1908 (28 anos antes), trouxe cerca de 800 imigrantes. Porém os escassos recursos dos meio de comunicação da época não permitiam que se tomasse o conhecimento da difícil realidade. “Munidos de esperança e ilusão, meus pais embarcaram no dia 15 de setembro e chegaram ao Brasil em 30 de outubro de 1936. Meu pai, Shizuo, tinha 31 anos e era carpinteiro. Minha mãe, Massano, dona de casa, tinha 29 anos. Traziam com eles não apenas a esperança, mas também os 5 filhos menores, o mais velho com 10 anos e o mais novo com apenas 9 meses. Pela ordem decrescente de idade, Shizuma, Satiko, Fusako, Soiti e Emiko.” Quem relata a história da família é Kozue Imai, filha do casal imigrante, empresária, à frente da indústria metalúrgica Maringá Soldas S.A., em Curitiba, e da Artenge Construções Civis Ltda., em Londrina.
Chegando ao Brasil, a família Hirayama foi encaminhada com seus poucos pertences às regiões cafeeiras no interior paulista. “Meus pais contavam que as acomodações eram minúsculas, malcheirosas e sem piso, eram divididas com outras famílias, às vezes de outra procedência e nacionalidade. Eles sofreram as agruras de um trabalho para o qual não estavam preparados, sofreram as diferenças culturais que envolviam o idioma, os costumes e a alimentação, esta última muito sentida pelas características dos hábitos alimentares brasileiros, opostos aos japoneses que apreciavam verduras, legumes e peixes”, relata Kozue.
A filha relembra as histórias contadas pela mãe, dona Massano, que viveu até os 99 anos. “Ao deparar pela primeira vez com a mandioca, sem a casca escura, que uma sitiante local carregava, ela correu para dentro de casa, apanhou alguns cosméticos que tinha trazido do Japão e ofereceu em troca daquilo que ela julgava ser nabo. Como a segunda camada da mandioca não havia sido retirada, foi difícil comer de tão amarga. Meus pais sentiam muita falta de verduras, chegando ao ponto de preparar um mato chamado picão para se alimentar”, revela.
Depois de cumprido o tempo acordado entre os dois povos para a colheita de café, a família buscou novas oportunidades de trabalho, arrendando terras para outros cultivos como algodão, arroz, amendoim e batata. Por ser carpinteiro, o patriarca Shizuo construía ou reformava a casa que iria acolher a família em cada local que chegava. “A família cresceu e em 1953, éramos doze filhos com os pais”, conta Kozue.
Um período de grandes dificuldades ocorreu no tempo da Segunda Grande Guerra. Tendo o Brasil se aliado aos Estados Unidos contra a Itália, Alemanha e Japão, os imigrantes eram tratados como inimigos dos brasileiros. A escassez de alimentos básicos, inclusive o sal, fazia com que as famílias extraíssem o sal das sardinhas salgadas. Houve o fechamento das escolas que ministravam aulas de japonês e queima de livros escritos em japonês, em praças públicas. “E o mais absurdo do cerceamento da liberdade, foi a proibição de usar o idioma em local público, o que era motivo de prisão. Após a derrota do Japão pelos americanos, era proibido entoar o Hino Nacional do Japão no próprio país e em todos os quadrantes da Terra. No dia primeiro de cada ano, seguindo a tradição japonesa, meus pais reuniam a família para a oração e o canto do hino, em frente à imagem do imperador e da imperatriz do Japão. Mas tudo escondido”, recorda.
A chegada da família Hirayama ao Paraná foi em 1952. Primeiro em Jataizinho, onde montou um comércio que na época era chamado de Secos e Molhados. “Depois, em 1960, meus pais, pensando nos estudos dos filhos, mudaram-se para Londrina. Esta cidade que tão bem nos acolheu foi, até os últimos dias de vida dos meus pais, a “Londorina” do coração”, conclui.
São filhos do casal Hirayama: Shizuma, Satiko, Fusako, Soiti, Emiko, Assao, Takao, Tadao, Miyuki, Toshio, Kozue e Sanae.
Eles tiveram trinta e dois netos: Nelson, Marisa, Yoshihiro, Fumiko, Hiroshi, Die, Yukio, Yoko, Kazuo, Kenji, Cristina, Paulina, Jorge, Francisco, Lurdes, Eurico, Hélio, Marcia Mirtes, Michelle, Lincoln, Aneci, Vanessa, Erick, Geisly, Ricardo, Glauco, Cássia, Mayra, Edila, Silvia, Rosane e Wagner. São quarenta e um bisnetos e dois trinetos até abril de 2008.

7 comentários:

  1. Fico feliz por partilharem esta história de luta e amor, parabéns por todas as conquistas que o povo japonês teve no Brasil, e também por mudar a vida de tantos brasileiros como eu, brasileira e "londorinense".

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  2. soh fiko triste pq quem escreveu essa historia foi minha tia.. esse casal d imigrantes eram meus avos..meu pai eh citado no texto.. e meu nome nao esta entre os netos..

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  3. Eu nao sei quem escreveu a historia... so sei que devo estar ai no meio tambem rs

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  4. meu avo tbm se chama kinzo e minha avo kaori

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  5. Eu sou a Michele, uma das netas ;) Filha de Asao, meus irmãos são Lincoln e Marcia

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