segunda-feira, 23 de março de 2009

Moriya, Renato Mikio


“Meu pai trabalhou muito. Sua área de segurança era a lavoura, onde ele já trabalhava quando morava no Japão. Sempre foi autodidata, tinha uma excelente oratória e por muitos anos foi o conselheiro da Colônia Coroados, Patrimônio de Londrina, onde morou durante muitos anos. Trabalhou duro para dar estudos aos irmãos mais novos e aos filhos.”
(Renato Mikio Moriya)


“Minha mãe tinha 20 anos quando chegou ao Brasil. Enfrentou a barreira da língua, comida e costumes. Ela conta que tinha dificuldade de chupar manga e comer mamão, frutas que desconhecia no Japão. Atualmente dona Tei está com 88 anos, lúcida, participa de atividades e desfruta do carinho da família.”
(Renato Mikio Moriya)




Situada ao nordeste do Japão, a região de Yamagata consiste em 70% de montanhas. É conhecida por suas deliciosas cerejas e todos os anos, em meados de outubro, é realizado o festival de crisântemos. Sem dúvida alguma, Yamagata é uma linda região. De lá veio o imigrante Nobuo Moriya, que deixou o Japão em busca de melhores condições de vida. A trajetória da família é contada pelo médico Renato Mikio Moriya: “Meu pai chegou ao Brasil em 1936, com 20 anos de idade, junto com os irmãos Hanako, Akio, Yoshio e Tomio. O pai, Heichiro, a mãe, Sada, e o outro irmão Kazuo vieram em 1939. A irmã caçula, Shimako, nasceu no Brasil. Meu pai quando chegou em Santos, foi enviado para as fazendas na região de São Joaquim, em São Paulo. Porém, foi em Cravinhos que ele conheceu e se casou com a minha mãe, Tei Suzuki Moriya.” Mais tarde o casal mudou-se para Lorena, no Paraná. “Foi em 1950 que eles transferiram residência para Coroados, com todos os filhos. Meu pai foi pioneiro e deu uma vasta contribuição ao cultivo do café, em Lorena, e do algodão, bicho-da-seda e café, em Londrina. Dedicou-se à escrita: Haiku, Tanka, Senriyu e assinou as colunas dos jornais Paraná Shimbun e Nippaku Shimbun, tendo trabalhado no Kosekai, em Londrina. Meu pai tinha muito potencial literário, mas morreu acreditando que a área de segurança era a lavoura.”
“Minha mãe veio para o Brasil em 1940, com 20 anos. Ela também é de Yamagata. Minha avó, Yashi Suzuki, veio com a minha mãe, que era a filha mais velha, juntamente com o filho caçula, Yukiti, no terceiro e último momento da migração familiar. A mãe conta os sofrimentos e as instabilidades vivenciados durante anos, para poder juntar novamente a família. Esta última leva chegou a bordo do último navio durante a 2ª Guerra Mundial. Desembarcaram em Santos, sendo logo encaminhados a Cravinhos, onde ela conheceu meu pai. Minha mãe foi uma vencedora. Em meio às dificuldades da língua, costumes e tradições, ajudou o marido, que era primogênito, a encaminhar os cunhados, que moraram juntos desde que se casou. Em parceria com a sogra, Sada, educou e encaminhou os filhos: Hiroko, Mitsuaki, Humiaki, Takako, Naomi, Mikio e Makiko, sem nunca reclamar. Em fevereiro de 2008 ela completou 88 anos gozando de boa saúde física e mental. Participa das atividades da Terceira Idade e sempre que possível está cercada pelos filhos, netos e bisnetos”, revela o médico.
Renato Mikio Moriya nasceu em 1958, em Coroados, patrimônio de Londrina. “Sou um pé vermelho legítimo”, ele se orgulha. Ele é o sétimo filho do casal Tei e Nobuo. É um reconhecido pediatra, médico de adolescentes, especialista em terapia familiar. Mas nada foi conseguido facilmente. “O que conquistei foi a duras penas, graças à ajuda de irmãos e de uma tia, que me acolheram nesta trajetória, para conseguir cursar o ginasial e o colegial. Trabalhava de dia e estudava à noite, sempre ajudando financeiramente a família. Determinado, ingressei na faculdade de Medicina, na Universidade Estadual de Londrina, em 1976. Me formei em 1982”, conta ele. É casado com Luiza Kazuko, intensivista pediátrica, professora e coordenadora da UTI pediátrica do Hospital Universitário de Londrina, a quem o marido não poupa elogios: “Minha esposa é uma pessoa muito especial, é única e insubstituível. Temos duas filhas, Renata Yuri, com 21 anos, estudante de Administração de Empresas na UEL e do último ano de Turismo, na Unopar. Paula Tammy tem 18 anos e é vestibulanda do curso de Medicina”. Coordenador da Rede de Enfrentamento às crianças e adolescentes em situação de violência do município de Londrina, é componente do corpo médico da Clínica Dei Bambini e da diretoria executiva da Associação Médica de Londrina. Professor convidado da UEL, é autor do livro “Fenômeno Dekassegui, um olhar sobre os adolescentes que ficaram”, lançado em Londrina, em 2000.
Procurando manter as tradições orientais para que sejam transmitidas de geração a geração, Renato, esposa e filhas são adeptos de comida e música japonesas, em especial no estilo “Enka”, a favorita dele. “Costumo escutar em casa e no consultório. Trata-se de uma mistura de sons tradicionais japoneses com melodias ocidentais, principalmente de influência americana. Foi criada entre a Era Meiji e a Era Taisho, como uma forma de música de protesto. Mas é extremamente agradável e me toca de forma muito profunda”, explica.
Renato e Luiza são católicos praticantes e atuantes. “Somos coordenadores da Pastoral Nipo-brasileira da Igreja Imaculada Conceição, junto ao padre Lino. Estamos organizando a missa das comemorações do Imin 100 anos que acontecerá na Catedral. Nossa vida é restrita ao trabalho, casa e igreja, todavia, gostamos de viver em família. Temos atividades diversas e quando estamos todos juntos procuramos aproveitar ao máximo. O lema condutor de nossas vidas é o “Gambarê”, herdado de nossos pais e a nossa expectativa é que as próximas gerações continuem honrando as nossas conquistas e adicionando muitos progressos para este país que tão bem nos acolheu”, conclui.

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