segunda-feira, 23 de março de 2009

Kamiji, Lúcio


“Minha mãe sempre falou para nós estudarmos, pois era a principal herança que poderia deixar para os filhos. E que não era para nós esperarmos bens materiais. Mas para adquirirmos conhecimento.”
(Lúcio Kamiji)




Era o ano de 1920 quando o imigrante Junkiti Kamiji e a esposa, Makie Miyamoto Kamiji, deixaram a Província de Wakayama Ken, no Japão, e aportaram em Santos. No coração, a saudade das filhas mais velhas que ficaram na cidade de Irokawa Ono, era dividida com o sonho de prosperidade no Brasil. O casal, que trabalhava na agricultura, no Japão, encontrou no Brasil tempos difíceis, árduos, de muito trabalho na lavoura. Quem relata a história é o neto Lúcio Kamiji. “Meus avós, como a maioria dos imigrantes, residiram a princípio na região Mogiana, no interior de São Paulo. Depois foram para o município de João Ramalho (Quatá), sempre trabalhando na agricultura. Em cada local ficavam em torno de 7 anos. Meu avô tinha um espírito aventureiro e desbravador. Minha avó costumava dizer que todas as vezes que melhoravam financeiramente, meu avô resolvia se mudar. Mas foi apenas em 1934 que vieram para o Norte do Paraná. Primeiro, residiram em Bandeirantes e depois, em Rolândia, onde meu avô trabalhou para formar as plantações de café. Em Rolândia, minha avó comandou o primeiro empreendimento fora da agricultura, uma casa de secos e molhados. Em 1941, continuando a saga dos 7 anos, foram para Sabáudia, onde, já com os filhos maiores, continuaram a trabalhar na agricultura, até 1964. Depois seguiram para Arapongas onde ficaram até 1968. Meus avós mudaram-se para São Martinho (Distrito de Rolândia), com o filho Yoshio, meu pai. Apesar da tradição firmar que o filho mais velho é quem deveria cuidar dos pais, não foi o que aconteceu com Makie e Junkiti.” O casal viveu o resto da vida em São Martinho, onde está sepultado. Eles tiveram os filhos Yoshio, Katsue, Missae, Yasuyuki, Maria, Yasue, Tetsuo e Miyoshi.
Em Arapongas a família Kamiji teve um posto de gasolina e propriedade rural. “Nesta época, a família era grande e todos os filhos já tinham suas respectivas famílias. Foi quando todos começaram a se redistribuir pelo país, tendo o primogênito ido para São Paulo, onde já morava uma das irmãs. Outras irmãs posteriormente também foram para lá, nas cidades de Suzano e Jordanézia. Uma outra foi para Dourados (MS) e outra, ambas falecidas, continuou a saga na zona rural em Sabáudia.
Yoshio Kamizi casou-se com Matsue Anami Kamizi, em 1949, e tiveram 5 filhos: Adhemar Akashi Kamizi, Iracy Satomi Kamizi, Elza Reiko Kamizi, Lúcio Kamiji e Márcia Marie Kamizi. “Em 1962 meus pais mudaram-se de Arapongas para Rolândia e, em 1966, foram para São Martinho (distrito de Rolândia). Lá eles tinham o “Bar e Restaurante São José”. Meus pais trabalharam muito para dar educação e estudos aos 5 filhos. Nesta época, minha mãe nos alertava a estudar e buscar conhecimento. Meu pai morreu novo, com 60 anos, teve um AVC hemorrágico, apenas 6 meses depois de enterrar a sua mãe. Parecia que já tinha cumprido a sua missão neste plano. Minha mãe, Matsue, continuou o negócio até 1992 e depois mudou-se para Londrina, residindo na rua Piauí até hoje. As minhas irmãs estão no Japão trabalhando e o meu irmão, após anos trabalhando como bancário no Banco do Brasil e posteriormente num estabelecimento comercial no ramo de ótica, foi para Camboriú onde está gerenciando um restaurante”, conta Lúcio.
Os avós maternos de Lúcio são Hideji e Ito Anami. “Eles imigraram em 1910, a bordo do navio Ryojun Maru. Moravam em Kumamoto Shi, na província de Kumamoto Ken. Meu avô era agricultor e minha avó, filha de samurai. Tiveram os filhos Takashi, Kikue, Katashi, Yoshie, Takeshi, Kiyoshi, Tieko, Haruko, Matsue e Tadashi. Eles também foram enviados para a região Mogiana e depois para Rancharia, no interior de São Paulo, onde permaneceram até 1947, quando finalmente mudaram-se para Londrina. Ambos já faleceram. Os tios (Takashi e Kiyoshi) continuam morando aqui em Londrina até hoje”, comenta Lúcio, que veio para Londrina em 1975, estudou no Colégio Vicente Rijo e em 1980 formou-se em Administração de Empresas na Universidade Estadual de Londrina. Desde 1985, é professor da UniFil (antigo CESULON) para os cursos de computação (Ciência da Computação e Sistemas de Informação). Virou empreendedor desde 1987, atualmente participa como sócio das empresas CONSYSTEM Consultoria e Sistemas e da AUDARE Engenharia de Software, ambas no ramo da Tecnologia da Informação.
Lúcio é casado com Lúcia Akemi Tokunaga Kamiji. O casal tem dois filhos, Danielle e Danilo. “Minha mãe tem 73 anos, é aposentada e desfruta da companhia dos filhos e netos. Tenho muito orgulho de ser seu filho. Ela nos criou em meio a lutas e nos deu boa educação. Todos os filhos estudaram. Foi sempre esse o objetivo principal dos meus pais. E que foi cumprido”, conclui.

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