“Meu pai não gostava de ver os imigrantes desamparados num país com língua e costumes desconhecidos e por isso se empenhou para que eu aprendesse português.”
(Tokiko Okabayashi)
“Não cheguei a freqüentar a primeira escola japonesa de Londrina, fundada em 1933, porque ela foi fechada em pouco tempo, por causa da 2ª Guerra Mundial. Aprendi por curiosidade a língua japonesa em casa.Isso espreitando pela fresta da porta da sala de aula (devido a idade ainda não permitir por ser muito novinha, idade de mais ou menos 5 anos). Meu pai contratou um professor, esvaziou uma sala em casa, criou um quadro-negro e as crianças tinham aulas de japonês ali. Tudo às escondidas.”
(Estela Okabayashi Fuzii)
A professora Estela Okabayashi Fuzii, a primeira nissei nascida em Londrina, 75 anos, guarda na memória e no coração a trajetória de vida ao lado dos pais. A mãe, Tokiko, nasceu em Hokkaido em 28 de janeiro de 1908 e veio para o Brasil com os pais em 26 de outubro de 1918, no navio Sangui Maru, partindo de Nagasaki. A bordo, o clã Ogassawara composto por 50 pessoas. Eles haviam vendido as propriedades no Japão e chegaram ao Brasil com terras adquiridas. Não vieram como imigrantes em busca de prosperidade, mas já fazendo parte da história da imigração sudoeste do Estado de São Paulo. Naquela ocasião, o clã construiu uma escola, tradição das colônias japonesas. “Era uma escola diferente, pois estudavam, além da língua japonesa, a língua portuguesa. Foi a primeira escola da colônia japonesa no Brasil a ensinar o idioma português e nela estudavam não apenas crianças, mas jovens, senhores e senhoras. Isso é preservado até hoje na periferia de Álvares Machado, antigo Brejão, e nesse local tem também um cemitério exclusivamente japonês. Hoje tombado como patrimônio histórico doado pelo clã”, conta a professora Estela.
“Quando o clã veio para o Brasil, organizaram uma festa de despedida em Tóquio, onde estavam presentes nobres como o barão Jiyuuzawa e empresários como Takuma Dan. Nessa festa entregaram à família uma soma em dinheiro que foi aceito com a promessa para a construção de empreendimento social em favor dos imigrantes japoneses. A promessa foi cumprida com a edificação da escola e do cemitério”, ressalta.
Tokiko casou-se com Taichi Sano, em 1930. Como a tradição japonesa permite que quando uma família tem apenas mulheres e precisa dar seguimento ao nome da família através de um filho homem, Taichi Sano (por ter casado com a filha mais velha do casal Okabayashi) assumiu o sobrenome Okabayashi. “Dando assim continuidade à família. Meu pai havia imigrado para o Brasil em 1921. Ele era de Takamatsu-shi Kagawa-Ken. No Brasil, trabalhou na lavoura e numa fazenda onde se fabricava pinga.”
Estela se recorda de tudo que aprendeu com os pais estudiosos. “Durante muitos anos meus pais, Taichi e Tokiko, tiveram comércio em Londrina, na rua Professor João Cândido. E mesmo dotada de boa fluência da língua portuguesa, incomum aos imigrantes, ela exigia que eu e a minha irmã Nair, já falecida, falássemos apenas japonês dentro de casa. Minha mãe era uma mulher de vanguarda e queria que as filhas estudassem. Meu pai me inspirou na leitura. Ele mandava buscar livros em São Paulo só para eu ler”, ressalta.
“Com o fechamento do comércio devido à Segunda Guerra Mundial, meu pai foi contratado pela empresa Anderson Clayton, percorrendo a zona rural na compra de algodão. Depois passou para a compra de grãos para a empresa Neman Sahão”, completa.
Mas o começo de vida do casal Taichi e Tokiko, em Londrina, também não foi fácil. Hábitos, costumes e língua completamente diferentes marcaram uma trajetória de trabalho. “Meus pais lutaram muito, cortavam palmito para o próprio consumo, numa região próxima ao atual Museu.” E continua. “Fui registrada em Jataizinho, mas cresci em Londrina. Fiz a Escola Normal e depois em Curitiba, cursei Pedagogia”, relembra.
Dona de um espírito solidário, dona Tokiko encaminhava e acompanhava os imigrantes doentes para hospitais. “Minha mãe atuava sempre como porta-voz das necessidades dos japoneses junto a instituições. Pouco a pouco as famílias imigrantes foram-lhes confiando as filhas, enquanto trabalhavam na lavoura. Assim, minha mãe fundou, em 1937, a Escola Modelo, internato de formação feminina, que até 1977 ensinou corte e costura, arte, culinária, bordado, ikebana e, sobretudo, ética feminina japonesa.”
Estela é casada com Eloy Fuzii, mãe de Stella Cristina, Myriam Teresa, Márian Elizabeth e Eloy Okabayashi Fuzii. É graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná, Orientação Educativa pela University of London, na Inglaterra, e Tecnologia Educativa, em Buenos Aires, na Argentina. Também é pós-graduada em Latu sensu - Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Paraná, Administração em Recursos Humanos e em Tecnologia Educacional. É professora titular da Universidade Estadual de Londrina, aposentada em novembro de 2003. Atualmente colabora junto à Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná como diretora do Departamento de Informação e Apoio ao Dekassegui e assessora do Departamento Internacional, além de participar ativamente da programação do Imin 100 anos em Londrina. Ela recebeu a Comenda Ordem do Tesouro Sagrado Raios de Ouro com Roseta outorgada pela Casa Imperial do Japão. “Fui receber a comenda em Tóquio, na Casa Imperial. Ao todo, éramos apenas 11 pessoas do mundo inteiro recebendo a homenagem. E eu, a única mulher”, comenta.
Dona Tokiko também foi condecorada pelo governo japonês com a Comenda Ordem do Tesouro Sagrado Raios de Ouro e Prata, em 1982. “Para mulheres e de geração seguinte como mãe e filha, é raríssimo o recebimento, pois nem homens ou mulheres de geração consecutiva têm recebido”, diz. Estela observa que a comenda normalmente é indicada por uma entidade, mas, no caso dela, a proposta partiu do consulado geral do Japão do Paraná. “Foi uma grata satisfação, eu não imaginava. Fiquei duplamente honrada”, conclui.
Minha querida tia tenho orgulho de você, Abraço Fabiano Okabayashi
ResponderExcluirOi. No cemitério de Santo Amaro em São Paulo tem um túmulo família okabayashi. É da sua família?
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