segunda-feira, 23 de março de 2009

INTRODUÇÃO

“Meus ancestrais dominaram o Japão por 2000 anos. E por todo este tempo nós dormimos. Durante meu sono, eu sonhei. Sonhei com um Japão unificado. Um país forte, independente e moderno… E agora estamos acordados. Temos linhas de trem, canhões e roupas ocidentais. Mas não podemos nos esquecer quem somos. Nem de onde viemos.”

Imperador Meiji Mutsuhito (1876)

Adati, Luiz Carlos


“Meu pai foi um exemplo para a comunidade.”
(Yosiko Endo Adati)


“Minha mãe guarda várias recordações do tempo que desfrutou na companhia dos meus avós Ihity e Hanako. E, ao lado do meu pai, Massaru, criou os filhos baseada nos melhores princípios de vida”.
(Luiz Carlos Adati)




O imigrante Ihity Endo deixou a Província de Fukushima em 1918. Era um adolescente em busca de melhores condições de vida, assim como seus pais. Para ele, ainda muito jovem, os dois meses passados em alto-mar era uma aventura que ficaria guardada na memória e no coração por toda a vida.
Ihity Endo casou-se com dona Hanako e fez história em Adamantina, no oeste paulista. “Tanto que há um bairro com seu nome, a Vila Endo, e um busto em uma praça, entre tantas outras homenagens. O nome do meu pai está ligado à própria fundação do município e, por toda a parte, ele é lembrado. Para os adamantinenses, meu pai foi um exemplo. O que mais surpreende em sua história é o fato de ele, apesar de ter começado a trabalhar muito jovem, ter tido uma visão empresarial que poucos imigrantes tiveram, principalmente se for considerada a dificuldade que representava viver em um país com língua e costumes totalmente diferentes”, conta Yosiko Endo Adati, 71 anos, matriarca da família. Ela tem boas lembranças dos pais, que foram exemplo de vida criando os 10 filhos: Nair, Keniti, Maria Yosiko, Katsue, Noboru, Taqueshi, Yukiko, Yaeko, Mary e Gilberto.
Yosiko Endo Adati tinha 16 anos quando seus pais hospedaram, durante uma semana, dois membros da família imperial japonesa com a visita do príncipe Kouchi Outani e sua esposa, a princesa Satoko Outani, irmã mais jovem da imperatriz Nagako, esposa de Hirohito. “Foi em 1952 e marcou para sempre nossa família”, relata.
O casal imperial voltou ao Brasil pouco tempo depois, mas em outra cidade do Estado de São Paulo. “Meu pai havia falecido em meados de 1953, e minha mãe, que foi à recepção oferecida ao casal, foi imediatamente reconhecida. A princesa Satoko pegou nas mãos da minha mãe, perguntou por nós e lamentou a morte do meu pai. Ela quebrou o protocolo ao se levantar e falar com minha mãe”, afirma.
Ihity Endo faleceu em 24 de junho de 1953, aos 49 anos, vítima de um acidente de carro. A morte do imigrante e pioneiro, causou forte abalo à população de Adamantina, onde era muito querido. Para a viúva, dona Hanako, foi uma tragédia dolorosa: ela estava grávida do décimo filho, mas enfrentou com coragem a adversidade. “Foram 40 dias de luto. A família chegou a receber telegrama de condolências do príncipe Outani, datado de 31 de julho de 1953”, conta Maria Endo Adati.
Yosiko Endo Adati nasceu em Duartina. Ela e o marido, Massaru Adati, se casaram em 1956. Vieram para Londrina em 1960. O casal teve seis filhos: Luiz Carlos Ihity, Carlos Aberto Massaru, Elizabeth Yoshiko, Marino Tadashi, Paulo Cezar Akihito e Maria Rosa Katsue.
O engenheiro agrônomo Luiz Carlos Adati, coordenador geral do Imin 100 do Paraná, é também um empresário de sucesso, tendo agregado diversos cargos na sua trajetória profissional. Dinâmico, visionário, ele é sócio diretor do Estacenter Parking e atua em seis Estados: Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, desde 1991. Além disso, Adati exerceu as funções de presidente do Conselho Municipal de Turismo, diretor da Associação Comercial e Industrial de Londrina, diretor da Codel Turismo, diretor regional da Câmara de Comércio Brasil-Japão do Paraná , vice-presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná. Foi diretor da Associação Cultural e Esportiva de Londrina e vice-presidente da Associação Brasileira dos Estacionamentos. Casado com a psicóloga Ione Taki Adati, é pai de Lucas e Luís Augusto.
Conhecedor de diversas culturas, Luiz Carlos Adati esteve na comitiva de Missões Econômicas ao Japão e Ásia por cinco vezes. No Japão, esteve representando o Paraná como líder nikkey no Programa Ministério das Relações Exteriores, representando o prefeito de Londrina na cidade de Nishinomiya e na cerimônia oficial das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, realizada em Tokyo e Kobe.

Egashira, Miyoshi


“Eu era adolescente e meu pai falou algo que ficou gravado na mente e no coração. Depois de ver Tóquio destruída e queimada por causa da guerra, em 1950, alertou que todos nós deveríamos ter uma atitude útil à sociedade. Que deveríamos semear coisas boas porque um dia elas iriam brotar.”
(Miyoshi Egashira)




O senhor Miyoshi Egashira irá completar 74 anos. Mas aparenta menos idade e é dono de uma vitalidade admirável. Há muitos anos dispensou o carro, faz diariamente sua caminhada, é faixa preta em judô e kendô, acorda cedo, faz seu ritual de concentração e aos domingos cozinha para toda a família. E tem uma memória ótima. Filho de Yoshico e Taneo Egashira, ele tem boas recordações da família, que durante muitos anos trabalhou na região de Lins, no interior paulista.
A saga da família Egashira se confunde com a história de centenas de imigrantes japoneses que aportaram no Brasil em busca de prosperidade. “Meu pai veio com os meus avós para o Brasil quando tinha apenas 11 anos. Eles chegaram ao Porto de Santos na manhã de 20 de abril de 1917, vindos da Província de Saga-Ken. Meus avós Haya e Taichi Egashira embarcaram com os filhos no navio a vapor Wakasa Maru. “Era um cargueiro com 70 toneladas”, conta Miyoshi, segundo filho do casal Egashira.
No Brasil foram levados de trem à região Mogiana. Depois de permanecerem 5 anos na Fazenda Buenópolis, na cidade de Cravinhos, mudaram-se para Catanduva e depois para Lins, onde os pais de Miyoshi viriam a se casar. “Após 10 anos de vida de colono, a família Egashira conseguiu comprar 30 alqueires de terra na Colônia Aliança”, recorda. “Dois anos depois, meu pai compraria seu primeiro caminhão. Com a revolução de 1930 o caminhão foi confiscado.E foi devolvido para ele em 1934, mas apenas o motor e o chassi. Meu pai acabou vendendo para dar entrada em 20 alqueires na Gleba Bandeirantes, em Rolândia. Naquela época éramos eu, meu irmão mais velho e meus pais”, completa. Mais tarde o local foi batizado pelo próprio Taneo, com o nome de Colônia Kyoei, que significa “Progresso com Unidade’’.
Taneo Egashira foi um dos fundadores de Rolândia, fundador do Rotary Club daquela cidade e primeiro imigrante a ser presidente rotário, em 1961. A família prosperou e teve fazenda em Paranavaí. Sempre preocupado em dar os melhores estudos aos filhos, Hatsuyo, Sussumu, Yaeko, Iwao, Yoiti, Yoshitane, Takatoshi, Massaru e Miyoshi, o imigrante Taneo trabalhou incansavelmente deixando um legado de honestidade e dedicação. “Admiro muito meus pais. Todos os filhos tiveram a formação do curso secundário e quatro formaram-se no curso superior”, relata.
Saudosista, Miyoshi Egashira relembra os anos passados na fazenda de café quando, ainda criança, ajudava os pais no trabalho da lavoura. “No setentrião paranaense, cercado pela densa floresta tropical, passei a infância descalço, sem muita comodidade e convivendo com as adversidades da natureza. Com 13 anos, na época áurea do café, pude me mudar para Londrina a fim de estudar. Na época, ainda existia o resquício da 2ª Guerra Mundial. Eu ouvia constantemente as palavras discriminatórias, apesar de ter nascido no Brasil. Foi um tempo difícil para os japoneses”, recorda. Em 1958, após concluir o curso colegial, Miyoshi foi para Curitiba onde fez o curso de Economia. “Mas durante o curso eu trabalhei como desenhista, projetista, jardineiro, tipógrafo, impressor, professor de língua japonesa, decorador, motorista de Kombi e fui admitido numa empresa de Organização e Sistematização de Empresas. Em 1961, fui nomeado tradutor público juramentado.”
Em 1964 ele casa-se com a professora Hisako. “Em 1963 eu havia feito uma prova seletiva para intérprete bilíngüe da Empresa Usiminas e fui aprovado. Mas, como já trabalhava na empresa de organização e com casamento marcado para janeiro do ano seguinte, permaneci em Curitiba. E sempre fiz questão de me especializar, estudar, aprender. Retornei a Londrina em 1966, quando o então deputado federal Antonio Ueno me pediu para organizar uma financeira, a Paranacrédito S.A – Financiamento, Crédito e Investimento. Depois fundei a Distribuidora Nikkei e fui sócio gerente da Farmácia Sergipe, Restaurante San Remo, LC Cosméticos Ltda. e trabalhei na construção e organização do Hotel Nikkey e Restaurante Tsubaki, em São Paulo.”
Tendo viajado várias vezes para os Estados Unidos, Europa e Japão, quando participava de seminários internacionais, Miyoshi fez um curso de orientação e treinamento na área da Medicina Preventiva e Assistência ao Idoso. “Isso foi em 1983, quando viajei a convite do governo do Japão. Depois que retornei, percorri todo o rincão paranaense para contar com as Associações Nipo-brasileiras e implantar o sistema de Medicina Preventiva no Paraná. Cheguei a viajar mais de 50 mil quilômetros em 10 anos, com uma equipe de 40 pessoas, entre médicos, bioquímicos, fisioterapeutas, nutricionistas, laboratoristas e enfermeiras. Foi um trabalho árduo, mas extremamente gratificante”, comenta.
Por mais de 20 anos foi diretor da ACEL – Associação Cultural e Esportiva de Londrina e atualmente é representante da Cidade de Nishinomiya, no convênio de cidade co-irmã entre Londrina e Nishinomiya. E é membro consultivo da Aliança Cultural Brasil Japão do Paraná. Hisako e Miyoshi tiveram duas filhas: Denise, casada com Mário. Ambos são funcionários públicos. Sandra é psicóloga, atua em clínica e como consultora de recursos humanos. É casada com Marcelo, que dirige um bar restaurante em Londrina. “Temos três netos, Amanda, com 8 anos, João Pedro, 4 anos, e Vivian, 1 ano e meio”, conta orgulhoso.
Como lazer, Miyoshi reúne a família aos domingos e faz questão de cozinhar. “Faço de tudo um pouco e tenho prazer em ver minha família reunida. Lembro que minha mãe cozinhava para o meu pai e todos os filhos homens, numa época dura da lavoura, sem regalias. Eu ajudava minha mãe e aprendi com ela a preparar pratos japoneses. Na verdade, cozinhar me faz muito bem. É como uma terapia”, conclui.
Taneo Egashira faleceu em 1988, com 82 anos. Trabalhou incansavelmente em prol da comunidade e em abril de 1978, ano comemorativo dos 70 anos da imigração japonesa, foi agraciado com uma Comenda do Imperador do Japão “Kyokujitsusho”, que significa “Ordem do Sol Nascente”. Dona Yoshico faleceu em 1987.

Fukushima, Massanori


“A família Fukushima agradece à colônia japonesa de Arapongas e do Paraná pelo privilégio de poder servir. E agradecemos com alegria, a honra de receber a Comenda do Imperador do Japão, em 1995.”
(Masato Fukushima)


Ele deixou a Província de Fukuoka, no Japão, ao lado dos pais, para tentar novos horizontes num país totalmente diferente do seu, com hábitos, costumes, comida e idioma nunca antes vistos. Durante muitos anos a família dedicou-se ao trabalho na lavoura. E aos poucos eles foram conquistando estabilidade financeira, se tornaram prósperos e adotaram o Brasil como o país do coração. Em Arapongas fixaram residência e se tornaram uma das famílias mais tradicionais daquela cidade.
Masato Fukushima nasceu em 12 de dezembro de 1924 e imigrou com a família para o Brasil, em 1935. De Santos, eles seguiram para Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, sempre tendo como atividade principal a plantação de algodão. Em 1948 a família mudou-se para Arapongas, no Norte do Paraná. “Eu e a minha esposa, Shizuki Tagawa, tínhamos o primeiro filho, Massanori, com apenas um mês de vida. Durante 6 meses eu trabalhei como aprendiz na Casa Verde, no ramo de secos e molhados, de propriedade do senhor Shigueru Nakagawa, e que ficava ao lado do Tabelionato Grassano. Em 1949, eu me estabeleci no ramo, à frente da Casa do Povo, situada na Avenida Arapongas, 1302. Com trabalho incansável, honestidade e bom atendimento, conseguimos uma grande clientela. A convite do senhor Shigueru, comecei a freqüentar as reuniões da Associação Japonesa. Em 1960 iniciei uma nova atividade de benefício de arroz, a Máquina São Paulo, na rua Tangará, 43”, relembra o imigrante Masato.
Foi em 1974, que Masato Fukushima ampliou horizontes, com o comércio de compra e venda de cereais e industrialização de milho branco e secagem. Ao lado dos filhos Massanori e Nelson, abriu a firma Fukushima Alimentos Ltda. “Fomos prosperando e adquirimos terras em Arapongas, plantando 60 mil pés de eucaliptos, 40 mil pés de kiri. Tivemos granja, suínos, criação de coelhos e frango de corte”, comenta.
Masato e Shikuzi tiveram sete filhos: Massanori, Alice Harumi, Luzia Kiyomi, Catarina Shizuka, Nelson Massaharu, Elza Mayumi, Celina Terumi.
Várias funções e cargos o imigrante Masato ocupou ao longo de todos esses anos. Atuou na Associação Japonesa, fundou a Acear, onde foi presidente durante sete gestões. Coordenou eventos esportivos e a exposição agrícola, foi vice-presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, vice-presidente da Província de Fukuoka no Brasil e presidente da Província de Fukuoka em Arapongas. É membro do Rotary Club de Arapongas desde 1980, presidente do Sindicato Rural de Arapongas. Participou na coordenação dos 70 anos da imigração japonesa. Em 1988, durante as comemorações dos 80 anos de imigração, foi o coordenador geral dos eventos. Em 1998, nos festejos de 90 anos da imigração, continuou se empenhando ativamente, auxiliando na coordenação, recepcionando diversas autoridades tanto do Brasil como do Japão. Há 51 anos atua na diretoria da Liga Desportiva Norte do Paraná, atualmente, Liga Desportiva Cultural Paranaense. Recebeu homenagens, entre elas, a “Honra ao Mérito”, concedida pelo governador Hirako Kamei, da Província de Fukuoka. A mesma honraria lhe foi dada pela Liga Desportiva Norte do Paraná e outra, concedida pela Associação da Criança Excepcional do Brasil. Também foi agraciado com a “Honra ao Mérito” concedida pelo ministro de Relações Exteriores, Munussuke Ono, na ocasião dos 90 anos da imigração japonesa. Em 1990, foi ao Japão para receber a homenagem do governador de Fukuoka, Sr. Yassuo Okuta, tendo participado das solenidades dos Jogos Abertos do Japão. Foi “Cidadão Honorário de Arapongas” e recebeu a “ Comenda de Sol Nascente de Raios Dourados”, dada pelo imperador do Japão, essa, motivo de muito orgulho para um imigrante japonês.
O casal Masato e Shikuzi completou 50 anos de casados, em 1997. Eles tem 15 netos.

Furuta, Antonio Tomio


“Meus pais eram feirantes. Aprendi tudo com eles, acordando muito cedo, observando a luta deles, o empenho no dia-a-dia. Meu pai montou aquele box no Mercado Municipal para mim. Tem 40 anos e é de lá que sempre tirei o sustento para a minha família. A mesma vontade de trabalhar meu pai herdou do meu avô, Hissokit Furuta, que chegou no Brasil em 1914. E foi direto para a lavoura.”
(Antonio Furuta)



Pode-se afirmar que Antonio Furuta é um homem de sucesso. Um empresário dinâmico, trabalhador, conhecedor do assunto. Há 40 anos comanda o negócio iniciado pela família no Mercado Municipal. “Naquela época, em 1968, o prédio estava abandonado e o prefeito Hosken de Novaes doou um box para cada feirante. Meu pai abriu uma portinha e começou a vender frutas, verduras. Não havia supermercado e nós acabamos virando uma mercearia para atender os clientes”, conta. O tino comercial estava no sangue e, aliado à experiência adquirida com o pai, Antonio dedicou-se ao negócio, que foi crescendo, criando um perfil próprio, conquistando clientes, tornando-se uma referência regional na oferta de gêneros alimentícios importados. Hoje, ele é o protagonista de uma história de sucesso que teve início com a chegada de seu avô paterno, Hissokit Furuta, em 1914, quando aportou em Santos e foi trabalhar na lavoura na região Mogiana, em São Paulo. “Meus avós vieram jovens, ambos com 20 anos, casados e tiveram todos os filhos aqui. Meu pai, Massaji Furuta, nasceu em Assaí e lá fez a vida ao lado da minha mãe, Kiyoko. Somos 8 irmãos: Meire, Luiza, Mário, Antonio, Luiz, Milton, Roberto e Mauro. Quando estávamos em idade escolar nos mudamos para Londrina. Até os 10 anos nós só falávamos em japonês com meus pais. Eles faziam questão e ninguém desobedecia porque meu pai era direto, de pouca conversa, dedicado somente à família”, relembra Antonio. A família Furuta é proveniente da Província de Fukuoka que é banhada pelo mar por três lados, além de fazer fronteira com as províncias de Saga, Oita e Kumamoto. A província inclui as duas maiores cidades de Kyushu: Fukuoka e Kitakyushu, concentrando em si as principais indústrias da região. ‘É uma região bonita, minha mãe já esteve lá por duas vezes e meu pai viajou para rever os parentes uma vez. Eu também já estive lá. Mas nada se compara ao Brasil”, ressalta. Antonio lembra-se do pai acordando nas primeiras horas da madrugada para ir trabalhar. “Não tinha descanso. Se chovia e não dava para trabalhar na lavoura, meu pai cortava lenha. Quando eu fiz 18 anos, aposentei meu pai e fui trabalhar com meu irmão. Ele fazia a feira e eu ficava no Mercado Municipal. Herdei a mesma vontade de trabalhar do meu pai. Nunca tive preguiça para nada.” Viúvo, pai de uma única filha, Antonio Tomio Furuta é membro da Igreja Perfeita Liberdade. A mãe é viva, atuante na igreja, tem 13 netos. O pai faleceu com 56 anos, de um infarto fulminante. “Foi muito duro. Meu pai era muito ativo, participante. Eu tenho boas lembranças dele”, conclui.

Fuzii, Estela Okabayashi


“Meu pai não gostava de ver os imigrantes desamparados num país com língua e costumes desconhecidos e por isso se empenhou para que eu aprendesse português.”
(Tokiko Okabayashi)


“Não cheguei a freqüentar a primeira escola japonesa de Londrina, fundada em 1933, porque ela foi fechada em pouco tempo, por causa da 2ª Guerra Mundial. Aprendi por curiosidade a língua japonesa em casa.Isso espreitando pela fresta da porta da sala de aula (devido a idade ainda não permitir por ser muito novinha, idade de mais ou menos 5 anos). Meu pai contratou um professor, esvaziou uma sala em casa, criou um quadro-negro e as crianças tinham aulas de japonês ali. Tudo às escondidas.”
(Estela Okabayashi Fuzii)




A professora Estela Okabayashi Fuzii, a primeira nissei nascida em Londrina, 75 anos, guarda na memória e no coração a trajetória de vida ao lado dos pais. A mãe, Tokiko, nasceu em Hokkaido em 28 de janeiro de 1908 e veio para o Brasil com os pais em 26 de outubro de 1918, no navio Sangui Maru, partindo de Nagasaki. A bordo, o clã Ogassawara composto por 50 pessoas. Eles haviam vendido as propriedades no Japão e chegaram ao Brasil com terras adquiridas. Não vieram como imigrantes em busca de prosperidade, mas já fazendo parte da história da imigração sudoeste do Estado de São Paulo. Naquela ocasião, o clã construiu uma escola, tradição das colônias japonesas. “Era uma escola diferente, pois estudavam, além da língua japonesa, a língua portuguesa. Foi a primeira escola da colônia japonesa no Brasil a ensinar o idioma português e nela estudavam não apenas crianças, mas jovens, senhores e senhoras. Isso é preservado até hoje na periferia de Álvares Machado, antigo Brejão, e nesse local tem também um cemitério exclusivamente japonês. Hoje tombado como patrimônio histórico doado pelo clã”, conta a professora Estela.
“Quando o clã veio para o Brasil, organizaram uma festa de despedida em Tóquio, onde estavam presentes nobres como o barão Jiyuuzawa e empresários como Takuma Dan. Nessa festa entregaram à família uma soma em dinheiro que foi aceito com a promessa para a construção de empreendimento social em favor dos imigrantes japoneses. A promessa foi cumprida com a edificação da escola e do cemitério”, ressalta.
Tokiko casou-se com Taichi Sano, em 1930. Como a tradição japonesa permite que quando uma família tem apenas mulheres e precisa dar seguimento ao nome da família através de um filho homem, Taichi Sano (por ter casado com a filha mais velha do casal Okabayashi) assumiu o sobrenome Okabayashi. “Dando assim continuidade à família. Meu pai havia imigrado para o Brasil em 1921. Ele era de Takamatsu-shi Kagawa-Ken. No Brasil, trabalhou na lavoura e numa fazenda onde se fabricava pinga.”
Estela se recorda de tudo que aprendeu com os pais estudiosos. “Durante muitos anos meus pais, Taichi e Tokiko, tiveram comércio em Londrina, na rua Professor João Cândido. E mesmo dotada de boa fluência da língua portuguesa, incomum aos imigrantes, ela exigia que eu e a minha irmã Nair, já falecida, falássemos apenas japonês dentro de casa. Minha mãe era uma mulher de vanguarda e queria que as filhas estudassem. Meu pai me inspirou na leitura. Ele mandava buscar livros em São Paulo só para eu ler”, ressalta.
“Com o fechamento do comércio devido à Segunda Guerra Mundial, meu pai foi contratado pela empresa Anderson Clayton, percorrendo a zona rural na compra de algodão. Depois passou para a compra de grãos para a empresa Neman Sahão”, completa.
Mas o começo de vida do casal Taichi e Tokiko, em Londrina, também não foi fácil. Hábitos, costumes e língua completamente diferentes marcaram uma trajetória de trabalho. “Meus pais lutaram muito, cortavam palmito para o próprio consumo, numa região próxima ao atual Museu.” E continua. “Fui registrada em Jataizinho, mas cresci em Londrina. Fiz a Escola Normal e depois em Curitiba, cursei Pedagogia”, relembra.
Dona de um espírito solidário, dona Tokiko encaminhava e acompanhava os imigrantes doentes para hospitais. “Minha mãe atuava sempre como porta-voz das necessidades dos japoneses junto a instituições. Pouco a pouco as famílias imigrantes foram-lhes confiando as filhas, enquanto trabalhavam na lavoura. Assim, minha mãe fundou, em 1937, a Escola Modelo, internato de formação feminina, que até 1977 ensinou corte e costura, arte, culinária, bordado, ikebana e, sobretudo, ética feminina japonesa.”
Estela é casada com Eloy Fuzii, mãe de Stella Cristina, Myriam Teresa, Márian Elizabeth e Eloy Okabayashi Fuzii. É graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná, Orientação Educativa pela University of London, na Inglaterra, e Tecnologia Educativa, em Buenos Aires, na Argentina. Também é pós-graduada em Latu sensu - Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Paraná, Administração em Recursos Humanos e em Tecnologia Educacional. É professora titular da Universidade Estadual de Londrina, aposentada em novembro de 2003. Atualmente colabora junto à Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná como diretora do Departamento de Informação e Apoio ao Dekassegui e assessora do Departamento Internacional, além de participar ativamente da programação do Imin 100 anos em Londrina. Ela recebeu a Comenda Ordem do Tesouro Sagrado Raios de Ouro com Roseta outorgada pela Casa Imperial do Japão. “Fui receber a comenda em Tóquio, na Casa Imperial. Ao todo, éramos apenas 11 pessoas do mundo inteiro recebendo a homenagem. E eu, a única mulher”, comenta.
Dona Tokiko também foi condecorada pelo governo japonês com a Comenda Ordem do Tesouro Sagrado Raios de Ouro e Prata, em 1982. “Para mulheres e de geração seguinte como mãe e filha, é raríssimo o recebimento, pois nem homens ou mulheres de geração consecutiva têm recebido”, diz. Estela observa que a comenda normalmente é indicada por uma entidade, mas, no caso dela, a proposta partiu do consulado geral do Japão do Paraná. “Foi uma grata satisfação, eu não imaginava. Fiquei duplamente honrada”, conclui.

Fuzioka, Tero


‘‘Quando eu era criança, ajudava meu pai na lavoura. Ele adquiriu uma propriedade de 30 alqueires em Araçatuba e eu me recordo o dia em que pela primeira vez vi um avião. Eu tinha 6 anos e fiquei encantado.’’
(Tero Fuzioka)


‘‘No Brasil, quando morávamos no sítio, meus pais nos trancavam em casa porque tinham medo que os mascates nos levassem embora.”
(Kazumi Fuzioka)




Eles eram jovens na época. Mas gravaram na memória cada apito do vapor Wakassa Maru, as escadas do navio, as brincadeiras a bordo. Traziam junto à pouca bagagem, entusiasmo e esperança. Com o passar dos anos tiveram que conviver com as desventuras e as decepções sofridas em solo brasileiro. Miyono e Akira Miyazaki casaram-se no Japão para vir ao Brasil. Ambos eram provenientes da Província de Kumamoto e aportaram em Santos em 26 de maio de 1913. O filho Tero Fuzioka conta a trajetória da família: “Meu pai levou o sobrenome da minha mãe porque na família dela havia apenas mulheres. Queriam dar continuidade ao sobrenome. O Miyazaki era herança da minha mãe, mas o sobrenome original do meu pai é Fuzioka. Igual ao meu’’.
Quando Tero Fuzioka nasceu, em 1º de fevereiro de 1929, a pessoa encarregada de fazer o registro era um amigo do senhor Akira. “Eles eram amigos desde a época de solteiros e conhecia meu pai apenas por Fuzioka. Aí ele ficou de me registrar Tero Fuzioka. Mas aconteceu uma coisa engraçada. Eu fui registrado apenas com o primeiro nome – Tero – e me tornei de fato Fuzioka quando cursava o primário e o professor acrescentou por conta própria. Sou o único da família a ter o sobrenome original do meu pai. Meus pais tiveram 15 filhos. Eu sou o sétimo filho e tenho 79 anos”, completa.
Chegando ao Brasil, o casal Miyono e Akira foi enviado a Birigüi, no interior de São Paulo. A família adquiriu um sítio de 7 alqueires e plantava café, depois mudou-se para Araçatuba. “Até os 11 anos eu morei no sítio e freqüentava a escola de lá. Mas foi em 1941 que eu fui para São Paulo continuar meus estudos. Eu trabalhava de manhã e estudava à tarde. Fui morar num internato, fiz curso de contabilidade na Faculdade de Santana e Escola Técnica do Comércio. Meus irmãos e pais continuaram trabalhando na lavoura até 1948. Depois se mudaram para Piacatu, próximo à cidade de Bilac, no interior paulista. Eu saí de casa em 1941 e nunca mais voltei. Fui para Maringá em 1952 onde me casei com Kazumi e lá residimos durante 17 anos”, conta.
Kazumi, filha de Yassube e Taneko Kague, tinha um salão de beleza e Tero trabalhava no comércio. Tiveram 3 filhos, Áurea, Alberto e Alcides, 10 netos e 3 bisnetos. “Meu pai morreu em 1971 com 73 anos. Eu trabalhei em Maringá, depois em Umuarama, numa empresa de ônibus. Graças a Deus tive condições de dar bons estudos para os meus filhos. Trabalhei em Umuarama até me aposentar em 1984.”
O casal atualmente reside em Londrina e adora pescar. “É meu passatempo preferido. Eu costumo pescar no Pesque Pague ou Rio Paraná. Também trabalhei na Associação Cultural Esportiva de Umuarama. Quando meu filho Alberto, que é médico, terminou a residência, optou por Londrina, onde viemos morar. A gente preserva a família, gostamos de estar juntos. Adoramos a companhia dos netos”, revela.
Kazumi e Tero casaram-se em 16 de outubro de 1958. Ela sempre foi dona de casa e conta que a mãe, no Japão, trabalhava como fotógrafa. Recorda que a mãe relatava sobre a vida difícil junto à lavoura e as primeiras impressões que a família teve ao desembarcar em Santos. “Minha mãe contava que ao entrarem no trem que os levaria para as fazendas na região Mogiana, ganhavam mortadela. Os japoneses nunca tinham visto aquilo e não suportavam o cheiro. E acabavam jogando tudo pela janela”, conta Kazumi, que criou os filhos na igreja católica, não tem oratório budista em casa, mas continua a tradição dos pais servindo comida japonesa e falando o idioma japonês. “Mas meus netos reclamam da comida japonesa. Os filhos gostam. Então eu tenho que fazer de tudo um pouco para agradar a todos”, conclui.

Hayashi, Shigueru


“Meus ancestrais tinham fábrica de saquê no Japão. Eu sou a quinta geração da família. E não tenho hábito de beber nada.”
(Shigueru Hayashi)


“A propriedade que meus pais deixaram no Japão quando vieram embora foi confiscada pelo governo após a guerra, só ficando a casa que uma prima apossou. Meu pai contava que a madeira da casa era tão pura e tão brilhante que você podia se “espelhar” nela para se arrumar. A casa tinha cerca de 300 anos.”
(Shigueru Hayashi)


A família de Shigueru Hayashi é de Okayama. O patriarca Kikuichiro e a matriarca Toshico Hayashi chegaram ao Brasil em junho de 1930, junto com sua mãe, Tome, seu irmão Kakuji e sua irmã Kazuko Hayashi. Foram estabelecidos na cidade de São Simão, na região Mogiana e trabalharam na lavoura. Mas não permaneceram muito tempo naquela propriedade. Se mudaram para Andirá onde tinham parentes e depois para Ourinhos, onde nasceu Shigueru, hoje com 73 anos, casado com Terumi, pai de Carlos Alberto Fumio Hayashi e de Elizabeth Midori Hayashi. “Minha família fugiu da guerra do Japão, antes de meu pai ser convocado para o exército. Em uma semana estavam a bordo do navio que os trouxe ao Brasil. Deixaram tudo lá e quando voltaram, foi apenas para rever familiares e passear. Tudo deles havia sido confiscado”, relata Shigueru, que ajudou o pai na lavoura até completar 20 anos. “Somos 6 irmãos. Eu, Paulo Eitiro, Lauro Mitharo, Olavo Koji, Rosa Hiromi e Hélio. Eu vim para Londrina em 1938, fui estudar no Colégio Hugo Simas. Nós tínhamos uma vida boa e tranqüila”, conta.
Aos 27 anos Shigueru casou-se com Terumi. “Eu precisava começar a vida e com a ajuda do sogro adquiri uma propriedade, era uma casa próxima ao Com Tour, onde residi por pouco tempo. Um amigo me chamou para trabalhar fora de Londrina e durante algum tempo fui funcionário de uma multinacional. Meu pai morreu em 1993 e minha mãe, quando eu ainda era criança. Tinha 5 anos, me recordo pouco dela”, conta.
Desde 1992, Shigueru dirige a empresa Persianas Hayashi. Membro da Igreja Messiânica, ele tem algumas histórias contadas pelo pai, bem vivas em sua memória. “Uma delas é que na região em que meu pai morava a sardinha era usada como adubo. Quando meus pais chegaram ao Brasil, viram que a sardinha era para comer no dia-a-dia, mesmo já morta. Ele também contava que na região do Japão em que viviam tinham o hábito de comer somente peixe vivo. Tiveram que se acostumar aos hábitos diferentes no Brasil. E tudo foi um choque para eles”, comenta.
O casal tem 3 netos: Beatriz, Gabriel e Luiza, filhos de Sandra e Carlos Alberto. “Gostaríamos de estar mais juntos. Porém eles residem em Ribeirão Preto. Mas quando possível, viajamos para visitá-los.”
Dona Terumi é dona de casa e tem um hobby: cuidar de plantas. Faz Bonsai e Ikebana. Tem uma infinidade de vasos. E pratica natação, além de acompanhar o marido aos encontros na Igreja Messiânica.

Hiraiwa, George


“Meu avô era um homem técnico, perpiscaz, inteligente. Foi um dos pioneiros de Londrina e seu nome estará gravado junto ao Mural na Praça do Centenário, quando será inaugurado dia 22 de junho de 2008. Aliás, junto com o nome do sr. Hikoma Udihara. Eles são os únicos que constam, estarem aqui em 1929. Meu avô foi um dos fundadores da Cooperativa Agrícola Cotia. Com um grupo de amigos fundou a primeira incubadora de ovos de Londrina. E deixou um grande legado de exemplo, caráter, determinação.”
(George Hiraiwa)



Kazuta e Kei Imagawa deixaram Hiroshima em 17 de abril de 1929 e desembarcaram no Brasil, numa manhã fria do mês de junho. Estavam a bordo do navio La Plata Maru, ao lado de centenas de imigrantes. Chegando a Santos foram para a região de Cambará, no Norte do Paraná, levando com eles pouca bagagem e um coração cheio de expectativas, sonhos e planos. Mas a vida na lavoura foi dura. Com eles vieram os filhos Akira, Hisako, Sawaiti e Shozo. Uma filha foi deixada no Japão. A história da imigração é contada pelo neto George Hiraiwa, grande empresário londrinense, casado com Elenice Mieko Hiraiwa, pai de Vitor, 21 anos, Gustavo, 19, e Leonardo, 13. “Meu pai, Tetsuya, foi o primeiro a nascer no Brasil. Depois de Cambará, onde trabalharam duro na lavoura, meus avós se mudaram para Jataizinho e em 1929 conseguiram comprar um lote de terra, hoje, o Jardim Imagawa. Meu avô foi um homem próspero, trabalhador, teve terras e uma granja. Participou da fundação da primeira escola japonesa de Londrina, foi um dos introdutores da uva Itália no Paraná, grande incentivador dos esportes, especialmente o atletismo. Meu pai e meu avô deixaram o ensinamento de estarmos sempre envolvidos com um esporte dentro da comunidade. Meu avô faleceu em 1977 e logo depois, minha avó, em 1980. Nós perdemos nosso pai jovem ainda. Minha mãe, Sayoko Hiraiwa Imagawa, tem 75 anos, mora comigo, é lúcida, ativa, dirige e é participativa nas atividades da comunidade nipo-brasileira”, comenta. George é formado pela Faculdade de Agronomia Lins de Queirós, em Piracicaba (SP), em 1982. Foi presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) gestão 2000 a 2002, fundador do Sicoob Norte do Paraná (do qual é presidente). Também trabalhou ativamente nos preparativos dos festejos Imin 100 anos. Joga beisebol com os filhos na Acel e dirige as empresas familiares ao lado de mais três irmãos. “Roberto é casado com Regina, pai de Roberta e Renata. Jun é casado com Marta, pai de Camila, Carlos, Marcos e Marcelo. Edson é casado com Érica e tem um filho apenas, Eduardo. Nós temos empresas nas áreas de alimentação, telecomunicações, tecnologia da informação, distribuidora em ferramentaria de corte industrial, agropecuária e incorporadora. Estamos sempre juntos. Mesmo a vida sendo corrida para todos, fazemos questão de partilharmos tudo, sempre tendo minha mãe Sayoko, como a base e a estrutura familiar.” O último filho do casal imigrante Kazuta e Kei Imagawa, Hisao, casado com a senhora Hatue, tem três filhos: Érica, Márcio e Rinando. Eles moram na chácara Primavera, em Ibiporã.

Hirayama, Kozue
















“Meu pai era dotado de uma sensibilidade extraordinária que às vezes entrava em choque com a rígida educação que recebera no Japão. Criou os filhos tendo como base os valores fundamentais como respeito, integridade, moral e justiça, aliados a conhecimentos. Costumava dizer que a mente é um campo fértil que precisa ser cultivado com conhecimentos e bons pensamentos para não dar espaço às ervas daninhas.”
(Kozue Imai)


“Minha mãe viveu até os 99 anos de forma saudável e dinâmica, com o espírito alegre de uma criança. Deixou muitas lições de vida que sempre irão inspirar as gerações futuras pelo seu legado de entusiasmo. Por trás de sua figura frágil e delicada se escondia uma mulher forte e decidida capaz de enfrentar qualquer dificuldade. Deixou uma frase para reflexão: “Se você tiver tempo sobrando para ver os defeitos dos outros, vá olhar e cuidar do próprio cotovelo.”
(Kozue Imai)





Em setembro de 1936 a família Hirayama empreendeu a grande aventura que tinha como destino o Brasil. “Lá o dinheiro brota em árvore” foram as palavras ouvidas pelas famílias japonesas ávidas em busca de prosperidade e melhores condições de vida. Os tempos estavam difíceis no Japão. A primeira viagem a bordo do vapor Masato Maru, em 1908 (28 anos antes), trouxe cerca de 800 imigrantes. Porém os escassos recursos dos meio de comunicação da época não permitiam que se tomasse o conhecimento da difícil realidade. “Munidos de esperança e ilusão, meus pais embarcaram no dia 15 de setembro e chegaram ao Brasil em 30 de outubro de 1936. Meu pai, Shizuo, tinha 31 anos e era carpinteiro. Minha mãe, Massano, dona de casa, tinha 29 anos. Traziam com eles não apenas a esperança, mas também os 5 filhos menores, o mais velho com 10 anos e o mais novo com apenas 9 meses. Pela ordem decrescente de idade, Shizuma, Satiko, Fusako, Soiti e Emiko.” Quem relata a história da família é Kozue Imai, filha do casal imigrante, empresária, à frente da indústria metalúrgica Maringá Soldas S.A., em Curitiba, e da Artenge Construções Civis Ltda., em Londrina.
Chegando ao Brasil, a família Hirayama foi encaminhada com seus poucos pertences às regiões cafeeiras no interior paulista. “Meus pais contavam que as acomodações eram minúsculas, malcheirosas e sem piso, eram divididas com outras famílias, às vezes de outra procedência e nacionalidade. Eles sofreram as agruras de um trabalho para o qual não estavam preparados, sofreram as diferenças culturais que envolviam o idioma, os costumes e a alimentação, esta última muito sentida pelas características dos hábitos alimentares brasileiros, opostos aos japoneses que apreciavam verduras, legumes e peixes”, relata Kozue.
A filha relembra as histórias contadas pela mãe, dona Massano, que viveu até os 99 anos. “Ao deparar pela primeira vez com a mandioca, sem a casca escura, que uma sitiante local carregava, ela correu para dentro de casa, apanhou alguns cosméticos que tinha trazido do Japão e ofereceu em troca daquilo que ela julgava ser nabo. Como a segunda camada da mandioca não havia sido retirada, foi difícil comer de tão amarga. Meus pais sentiam muita falta de verduras, chegando ao ponto de preparar um mato chamado picão para se alimentar”, revela.
Depois de cumprido o tempo acordado entre os dois povos para a colheita de café, a família buscou novas oportunidades de trabalho, arrendando terras para outros cultivos como algodão, arroz, amendoim e batata. Por ser carpinteiro, o patriarca Shizuo construía ou reformava a casa que iria acolher a família em cada local que chegava. “A família cresceu e em 1953, éramos doze filhos com os pais”, conta Kozue.
Um período de grandes dificuldades ocorreu no tempo da Segunda Grande Guerra. Tendo o Brasil se aliado aos Estados Unidos contra a Itália, Alemanha e Japão, os imigrantes eram tratados como inimigos dos brasileiros. A escassez de alimentos básicos, inclusive o sal, fazia com que as famílias extraíssem o sal das sardinhas salgadas. Houve o fechamento das escolas que ministravam aulas de japonês e queima de livros escritos em japonês, em praças públicas. “E o mais absurdo do cerceamento da liberdade, foi a proibição de usar o idioma em local público, o que era motivo de prisão. Após a derrota do Japão pelos americanos, era proibido entoar o Hino Nacional do Japão no próprio país e em todos os quadrantes da Terra. No dia primeiro de cada ano, seguindo a tradição japonesa, meus pais reuniam a família para a oração e o canto do hino, em frente à imagem do imperador e da imperatriz do Japão. Mas tudo escondido”, recorda.
A chegada da família Hirayama ao Paraná foi em 1952. Primeiro em Jataizinho, onde montou um comércio que na época era chamado de Secos e Molhados. “Depois, em 1960, meus pais, pensando nos estudos dos filhos, mudaram-se para Londrina. Esta cidade que tão bem nos acolheu foi, até os últimos dias de vida dos meus pais, a “Londorina” do coração”, conclui.
São filhos do casal Hirayama: Shizuma, Satiko, Fusako, Soiti, Emiko, Assao, Takao, Tadao, Miyuki, Toshio, Kozue e Sanae.
Eles tiveram trinta e dois netos: Nelson, Marisa, Yoshihiro, Fumiko, Hiroshi, Die, Yukio, Yoko, Kazuo, Kenji, Cristina, Paulina, Jorge, Francisco, Lurdes, Eurico, Hélio, Marcia Mirtes, Michelle, Lincoln, Aneci, Vanessa, Erick, Geisly, Ricardo, Glauco, Cássia, Mayra, Edila, Silvia, Rosane e Wagner. São quarenta e um bisnetos e dois trinetos até abril de 2008.

Imazu, Lúcia Emiko


“Meus pais fizeram questão de manter as tradições culturais do Japão. Desde a minha infância aprendi a falar fluentemente o idioma japonês, que ainda hoje uso muito, seja por necessidade no trabalho, seja como um carinho com os idosos que me procuram. Isto é uma forma de preservar a minha origem.”
(Lúcia Emiko Imazu)


“Tenho a satisfação de trabalhar há 15 anos com o Padre Haruo Sasaki, no projeto que talvez seja o seu maior legado: a Associação Filantrópica Humanitas, que cuida de pacientes com hanseníase e outras doenças dermatológicas. Quase todo o serviço oferecido é gratuito e a dedicação do padre Sasaki serve de exemplo como determinação, perseverança e amor ao próximo.”
(Lúcia Emiko Imazu)




Sadatoshi Imazu não se lembra de sua viagem a bordo do navio Rio de Janeiro Maru no ano de 1933. Com apenas 1 ano de idade, ele desembarcou no colo dos pais, com mais cinco irmãos. No Brasil a família aportou, trazendo na bagagem poucas peças de roupa, recordações infinitas de Fukuoka e grandes perspectivas por uma vida melhor.
Fukuoka hoje conta com uma população superior a 1 milhão de habitantes e é a capital da província do mesmo nome. Ocupa uma posição importante na administração, educação e comunicação da Ilha, mas naquela época a realidade era muito diferente. As famílias japonesas imigrantes deixavam a terra de origem em busca de condições melhores de vida. E com o clã Imazu não foi diferente. Quem relata a trajetória da família é a médica dermatologista Lúcia Emiko Imazu, que divide seu tempo com o consultório em Londrina e com a Associação Filantrópica Humanitas, em São Jerônimo da Serra, dirigida pelo padre Haruo Sasaki.
Ao chegar ao Porto de Santos, a família Imazu foi direcionada para o Estado de São Paulo. “Meus avós Shizu e Komataro Imazu foram levados para a fazenda Anhumas, na Estação Guariba. Por 3 anos foram colonos, depois se tornaram arrendatários no município de Taiassu. Mas foi em 1940 que eles compraram as primeiras terras em Pirianito, aqui no Paraná, e que atualmente é a cidade de Uraí. A família vivia da lavoura e o avô Komataro queria que ele fosse fotógrafo como o irmão, mas o meu pai se interessava e gostava da parte elétrica de automóveis”, relata Lúcia.
Assim, o pequeno imigrante Sadatoshi cresceu e muito jovem decidiu deixar a lavoura para tentar a vida na cidade como aprendiz de eletricista, aos 20 anos. Finalmente, em 1956, ele abriu a própria oficina que mantém até hoje: a Auto Elétrica Imazu. Sadatoshi casou-se com Miyoko Ishikawa, nissei, nascida em Assaí e com quem teve quatro filhos: Lauro Toshiya Imazu, Maurício Shoji Imazu, Lúcia Emiko Imazu e Mário Akio Imazu. “Meus pais acabaram fixando residência em Rolândia, onde fizeram vasto círculo de amigos. A oficina completa 52 anos.” Em 1988, Sadatoshi recebeu uma homenagem do Ministério do Exterior do Japão pelos relevantes serviços prestados à comunidade japonesa.
Lúcia Imazu tem boas lembranças de sua infância e relata com carinho a dedicação dos pais em prol da família. “Na simplicidade da oficina e com muita determinação meus pais educaram os quatro filhos. Eu e meus irmãos fomos criados num ambiente onde se falava japonês. Aprendemos naturalmente.” Hoje, Sadatoshi, 76 anos, e Miyoko, 71 anos, estão bem, ativos na sociedade nipônica e gostam de ter os filhos e netos por perto. “Sempre estamos com eles”, conta Lúcia, que já esteve no Japão e se prepara para uma próxima viagem ao Oriente.
Formada na Universidade Estadual de Londrina, fez residência em dermatologia em Bauru (SP) e foi bolsista pelo Mombusho na Universidade de Kyoto. Atualmente, desenvolve importante trabalho na área de pesquisa em hanseníase e leishmaniose junto à Associação Filantrópica Humanitas. Lúcia tem duas filhas: Vanessa Monami, com 13 anos, e Andrea Erina, com 11. Os avós maternos de Lúcia, Shizuko e Tsutomu Ishikawa, são provenientes de Hokaido. Vieram para o Brasil recém-casados e aqui tiveram todos os filhos.

Inada, Eduardo


“Meus pais vivenciaram uma história de luta e trabalho para me criar em tempos difíceis, desafiando costumes, idioma e tradição. Hoje tenho o prazer de tê-los ao meu lado, morando comigo, podendo oferecer-lhes uma vida tranqüïla e de qualidade.Se tive condições de estudar e me tornar um bom profissional, devo muito a eles.”
(Eduardo Inada)




Endiro Inada tem 92 anos e veio imigrante para o Brasil com 12 anos. Quicue Inada tem 87 anos, é nascida no Brasil. O casal mora com o filho, o médico Eduardo Inada, e diariamente faz a sua caminhada pelas ruas tranqüilas do elegante condomínio Royal Golf.
A história do casal Inada, no Brasil, começou em 1928, quando ele deixou o Japão e aqui aportou na manhã fria de 16 de junho de 1928. “Nós deixamos o Porto de Kobe em 21 de abril de 1928, a bordo do navio La Plata Maru. Meus pais resolveram vir para o Brasil devido a problemas familiares”, relata o imigrante Endiro.
Kio e Sensuke Inada, pais de Endiro, tinham uma vida próspera e boa no Japão até o tio colocar tudo a perder. “Até os meus 7 anos de idade nós vivíamos muito bem. Meu pai chegou a servir o exército japonês e trabalhou na agricultura. Eu tive 5 irmãos, sendo que 3 nasceram no Brasil. Quando aportamos no Brasil começou uma vida de trabalho árduo na região de Araraquara (SP), na Fazenda Glória.Trabalhamos na colheita de café e não tinha descanso. Era de sol a sol, sábado, domingo, todos os dias. Uma vida de muito trabalho, de muita luta. Um dia, meu pai caiu da escada e quebrou a mão. Ficou muito tempo parado e aí, éramos eu e meu irmão para dar conta de 5 mil pés de café. Não foi fácil”, conta.
Na Fazenda Glória a família ficou durante 1 ano e 8 meses. De lá foram para Promissão, onde permaneceram durante 22 anos. “Meu pai morreu em 1941, com 52 anos, na Fazenda Barra Mansa. Apesar de trabalhar na enxada, eu procurei estudar e progredir. Fiz curso de contabilidade por correspondência e sempre fui muito trabalhador e responsável. Nós viemos para o Paraná em 1952. Já estava casado com Quicue e tinha o Eduardo pequeno. Em Bela Vista do Paraíso assumimos uma fazenda de 500 alqueires, onde eu cuidava da administração e da contabilidade’’, conclui Endiro.
Quicue Inada é uma simpática senhora, falante, lúcida, professora primária aposentada. Seus pais são de Hiroshima. Perdeu a mãe, Quoito, com 14 anos. “Meu pai, Rikio Sakuda, casou-se novamente e eu tive 6 irmãos. Fui professora primária do ensino fundamental na zona rural e dava aulas na própria fazenda onde morava. Em 1985 a fazenda foi vendida e nos mudamos para Londrina. Aqui, moramos inicialmente no centro e dei aulas no Kumon até cerca de um ano, quando parei por problemas de saúde. Mas sinto falta de ensinar. Era o meu maior prazer”, relata.
O único filho do casal, Eduardo Inada, é casado com Marina e tem três filhos: Denise, que é dentista, Daniel, médico, e Cláudia, administradora de empresas. “Me sinto privilegiado, pois meus pais sempre procuraram-me dar bons estudos. Cursei o colegial no Colégio Salesiano, em Lins, e me formei em 1972, na primeira turma do curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina. Gosto de ter meus pais comigo. Apesar de bem idosos, participam do dia-a-dia na casa, são lúcidos. A gente sempre acaba aprendendo com eles. Meus pais são católicos praticantes. Sou da quarta geração da família Inada que teve início em 1830. E nossa história tem que ser preservada a cada geração”, conclui Eduardo.

Kamiguchi, Seiichi


“Eu me lembro das festas de São João que fazíamos na fazenda. E onde todos nós, ainda crianças, participávamos. Minha vida foi voltada à agropecuária. Sempre ajudei meu pai, por isso não fiz faculdade. Como filho mais velho, precisava ajudar em casa e contribuir com os estudos dos meus irmãos.”
(Seiichi Kamiguchi)


Era uma manhã gelada de junho quando o navio África Maru aportou em Santos. Entre centenas de imigrantes estavam Naokichi e Fujino Kamiguchi, ele, com 43 anos, ela com 33 anos, mais os quatro filhos. No Japão, na Província de Kagoshima Ken, o imigrante Naokichi trabalhava na agricultura. No Brasil eles esperavam dar continuidade ao trabalho braçal, junto à lavoura, esperando prosperar e quem sabe, futuramente, retornar ao País de origem.
Chegando a Santos, a família foi enviada ao Norte do Paraná, na cidade de Maringá. Lá eles ficaram 3 anos, mudando-se para Mauá da Serra onde fixaram residência e onde atualmente residem os filhos Seiichi, Hiroshi, Minoru, Takeshi, Carlos e Osvaldo com suas respectivas famílias. Todos se dedicam à agropecuária. Dona Fujino faleceu em 2004 e o senhor Naokichi, em 1970. Em menos de uma década, Seiichi Kamiguchi ampliou sua propriedade e começou a produzir soja, trigo e cereais. Se tornou próspero e ganhou prêmios como o de melhor produtor de sementes de trigo, dado pela extinta Cooperativa da Cotia.
“Meu pai contava que precisou trabalhar duro na lavoura de café, carpia, colhia. Em Mauá da Serra, nós plantávamos tomate, cebola e arroz. Depois compramos um terreno e começamos a desbravar terras. Eu, como filho mais velho, ajudava meus pais e por isso, deixei de estudar. Meus irmãos estudaram. Minoru, já falecido, em 1995, era agrônomo. Carlos também é agrônomo, Takeshi é administrador de empresas, Osvaldo é técnico em agropecuária”, relata o filho mais velho, Seiichi.
Dona Fujino, depois de viúva, retornou várias vezes ao Japão para visitar os familiares e participar de encontros de budismo. “Minha mãe era budista e fazia questão de preservar sua crença com rituais. Temos altar e a família fala japonês. Procuramos manter as tradições. Eu participo de um grupo de poesias, Haiku Senryu, tendo ganhado vários prêmios. Herdei da minha mãe essa vocação. Ela sempre escrevia cartas e tinha uma redação linda. Ela foi premiada no concurso Ienohikari, que significa “Luz do Lar”,” completa.
Takeshi, quarto filho do casal imigrante, depois de formado viajou aos Estados Unidos, onde permaneceu como intercambista durante um ano. Shiroshii, concluiu apenas o primário e trabalhou muito abrindo terras. Carlos é sócio de Shiroshii na fazenda e participa do conselho fiscal da sede da cooperativa Integrada. Minoru, em 1977, ganhou bolsa para a Província de Kagoshima, onde estudou durante um ano. Foi representante da Cotia, regional de Mauá. Viajou para os Estados Unidos a fim de fazer estágio e depois atuou como diretor da Cotia. Em seguida fundou a Copanor, com sede em Londrina. Fez um bela carreira, mas, infelizmente, faleceu ainda jovem, com 42 anos.
Seiichi é casado com Yuki, pai de Fernando. Hiroshi é casado com Rosa Tieko, pai de Alberto. Minoru é casado com Alice, pai de Key e Ayumi. Takeshi é esposo de Izabel, pai de Aika, Mika,Miyuki e Shin. Carlos é casado com Marta e tem apenas um filho, Kiyushi.
Entre as diversas funções de Seiichi, está a presidência da Associação Cultural e Esportiva de Mauá, exercida em 1992. Também foi vice-presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, em janeiro de 2000 e, em agosto de 2002, representou a América do Sul no Encontro Mundial dos Adeptos de Higashi-Honganji (um dos ramos do budismo japonês), em Campinas.

Kamiji, Lúcio


“Minha mãe sempre falou para nós estudarmos, pois era a principal herança que poderia deixar para os filhos. E que não era para nós esperarmos bens materiais. Mas para adquirirmos conhecimento.”
(Lúcio Kamiji)




Era o ano de 1920 quando o imigrante Junkiti Kamiji e a esposa, Makie Miyamoto Kamiji, deixaram a Província de Wakayama Ken, no Japão, e aportaram em Santos. No coração, a saudade das filhas mais velhas que ficaram na cidade de Irokawa Ono, era dividida com o sonho de prosperidade no Brasil. O casal, que trabalhava na agricultura, no Japão, encontrou no Brasil tempos difíceis, árduos, de muito trabalho na lavoura. Quem relata a história é o neto Lúcio Kamiji. “Meus avós, como a maioria dos imigrantes, residiram a princípio na região Mogiana, no interior de São Paulo. Depois foram para o município de João Ramalho (Quatá), sempre trabalhando na agricultura. Em cada local ficavam em torno de 7 anos. Meu avô tinha um espírito aventureiro e desbravador. Minha avó costumava dizer que todas as vezes que melhoravam financeiramente, meu avô resolvia se mudar. Mas foi apenas em 1934 que vieram para o Norte do Paraná. Primeiro, residiram em Bandeirantes e depois, em Rolândia, onde meu avô trabalhou para formar as plantações de café. Em Rolândia, minha avó comandou o primeiro empreendimento fora da agricultura, uma casa de secos e molhados. Em 1941, continuando a saga dos 7 anos, foram para Sabáudia, onde, já com os filhos maiores, continuaram a trabalhar na agricultura, até 1964. Depois seguiram para Arapongas onde ficaram até 1968. Meus avós mudaram-se para São Martinho (Distrito de Rolândia), com o filho Yoshio, meu pai. Apesar da tradição firmar que o filho mais velho é quem deveria cuidar dos pais, não foi o que aconteceu com Makie e Junkiti.” O casal viveu o resto da vida em São Martinho, onde está sepultado. Eles tiveram os filhos Yoshio, Katsue, Missae, Yasuyuki, Maria, Yasue, Tetsuo e Miyoshi.
Em Arapongas a família Kamiji teve um posto de gasolina e propriedade rural. “Nesta época, a família era grande e todos os filhos já tinham suas respectivas famílias. Foi quando todos começaram a se redistribuir pelo país, tendo o primogênito ido para São Paulo, onde já morava uma das irmãs. Outras irmãs posteriormente também foram para lá, nas cidades de Suzano e Jordanézia. Uma outra foi para Dourados (MS) e outra, ambas falecidas, continuou a saga na zona rural em Sabáudia.
Yoshio Kamizi casou-se com Matsue Anami Kamizi, em 1949, e tiveram 5 filhos: Adhemar Akashi Kamizi, Iracy Satomi Kamizi, Elza Reiko Kamizi, Lúcio Kamiji e Márcia Marie Kamizi. “Em 1962 meus pais mudaram-se de Arapongas para Rolândia e, em 1966, foram para São Martinho (distrito de Rolândia). Lá eles tinham o “Bar e Restaurante São José”. Meus pais trabalharam muito para dar educação e estudos aos 5 filhos. Nesta época, minha mãe nos alertava a estudar e buscar conhecimento. Meu pai morreu novo, com 60 anos, teve um AVC hemorrágico, apenas 6 meses depois de enterrar a sua mãe. Parecia que já tinha cumprido a sua missão neste plano. Minha mãe, Matsue, continuou o negócio até 1992 e depois mudou-se para Londrina, residindo na rua Piauí até hoje. As minhas irmãs estão no Japão trabalhando e o meu irmão, após anos trabalhando como bancário no Banco do Brasil e posteriormente num estabelecimento comercial no ramo de ótica, foi para Camboriú onde está gerenciando um restaurante”, conta Lúcio.
Os avós maternos de Lúcio são Hideji e Ito Anami. “Eles imigraram em 1910, a bordo do navio Ryojun Maru. Moravam em Kumamoto Shi, na província de Kumamoto Ken. Meu avô era agricultor e minha avó, filha de samurai. Tiveram os filhos Takashi, Kikue, Katashi, Yoshie, Takeshi, Kiyoshi, Tieko, Haruko, Matsue e Tadashi. Eles também foram enviados para a região Mogiana e depois para Rancharia, no interior de São Paulo, onde permaneceram até 1947, quando finalmente mudaram-se para Londrina. Ambos já faleceram. Os tios (Takashi e Kiyoshi) continuam morando aqui em Londrina até hoje”, comenta Lúcio, que veio para Londrina em 1975, estudou no Colégio Vicente Rijo e em 1980 formou-se em Administração de Empresas na Universidade Estadual de Londrina. Desde 1985, é professor da UniFil (antigo CESULON) para os cursos de computação (Ciência da Computação e Sistemas de Informação). Virou empreendedor desde 1987, atualmente participa como sócio das empresas CONSYSTEM Consultoria e Sistemas e da AUDARE Engenharia de Software, ambas no ramo da Tecnologia da Informação.
Lúcio é casado com Lúcia Akemi Tokunaga Kamiji. O casal tem dois filhos, Danielle e Danilo. “Minha mãe tem 73 anos, é aposentada e desfruta da companhia dos filhos e netos. Tenho muito orgulho de ser seu filho. Ela nos criou em meio a lutas e nos deu boa educação. Todos os filhos estudaram. Foi sempre esse o objetivo principal dos meus pais. E que foi cumprido”, conclui.

Kanashiro, Roberto Yoshimitsu


“Minha mãe acaba de completar 85 anos. Japonês comemora algumas datas que consideram mais significativas – o Toshibi. Uma tradição que marca um ciclo a cada 12 anos da vida da pessoa. Nos reunimos em torno dela: filhos, noras, genros, netos. Procuramos manter esse laço, essa união. A família é algo muito importante.”
(Roberto Kanashiro)

“O espírito de família vem desde os meus avós. Minhas irmãs mais velhas ficaram em Cornélio Procópio trabalhando ao lado dos meus pais e contribuindo financeiramente para os irmãos mais novos estudarem. Sou muito grato a isso.”

(Roberto Kanashiro)



Ainda criança, Yoshio Kanashiro embarcou para uma viagem que mudaria os rumos da sua vida. Naquela época, aos 5 anos, ele ainda não entendia o projeto de vida dos pais, Nae e Hoei Kanashiro, que deixaram a cidade de Okinawa, no Japão, para aportar no Brasil em busca dos sonhos de uma terra próspera. Isso foi em 1918, quando o casal, acompanhado do filho pequeno, fazia parte de mais uma leva de imigrantes japoneses.
Ao chegarem ao Brasil, o destino de Nae e Hoei Kanashiro foi igual ao de todos os japoneses que desde 1908 desembarcavam no porto de Santos, trazendo como bagagem poucas peças de roupas, pequenas lembranças e muita esperança.
O casal, depois de trabalhar em Mogi das Cruzes (SP), foi para Itambaracá, onde estabeleceu-se na Fazenda Barbosa. A cidade é próxima a Andirá e Cornélio Procópio, onde, com o passar dos anos, a família comercializava cereais e café. Em 1947, mudam-se para Cornélio, já donos de uma propriedade rural. O pequeno Yoshio cresceu vendo os pais trabalharem muito, um exemplo que procurou seguir a vida toda.
Em 1939 ele casa-se com Tie. O casal teve 12 filhos. Entre eles, o médico Roberto Yoshimitsu Kanashiro, que deixou Cornélio Procópio para estudar em Curitiba e posteriormente fazer faculdade de Medicina em Manaus (AM). “Foi um tempo muito bom, fiz grandes amigos e me dediquei aos estudos. Sabia do sacrifício dos meus pais e irmãs para eu estudar. Depois de formado, morei em São Paulo durante 3 anos, onde me especializei em cirurgia geral. No início da década de 1980 retornei a Londrina e daqui nunca mais saí”, ressalta.
Roberto casou-se com Lídia Uesu Kanashiro, com quem teve dois filhos, Fernanda Mayumi Kanashiro e Rafael Yoshio Kanashiro, ambos estudantes de Medicina. É dedicado à família e faz questão de mantê-la unida. “É uma tradição que vem desde os meus avós. A família é o que a gente tem de mais importante na vida. Somos 12 irmãos. Infelizmente perdi uma irmã ano passado. Mas continuamos nos encontrando, nos reunindo e cuidando da nossa mãe.”
Roberto Kanashiro também é membro e diretor da Associação de Intercâmbio Londrina Nishinomiya. Exerce hoje o seu 4º mandato como vereador. Foi presidente do Diretório Municipal do PSDB, em 1999/2001. Em 2002 foi vice-presidente da Comissão dos Direitos Humanos e de Defesa da Cidadania e membro da Comissão de Seguridade Social e líder da bancada do PSDB para 2001 e 2002. Em 2003, assume a vice-presidência da Comissão de Ciência e Tecnologia e a liderança do PSDB no Legislativo. Foi reeleito para a 14ª Legislatura pelo PSDB.
Ele e os irmãos com certeza herdaram o mesmo espírito do pai Yoshio, falecido em 1970. Quando veio para o Brasil, Yoshio deixou não apenas os parentes e amigos, mas uma cidade onde o povo até hoje valoriza a família e a comunidade e tem um relevante sentimento de união e principalmente de gratidão e respeito aos mais velhos.
O legado da cultura de Okinawa exibe desde o caráter familiar, “intimista”, coletivista e de cooperação das antigas vilas e aldeias, até a reverência e a elegância que eram oferecidos à nobreza do seu antigo Reino. O povo de Utiná (Okinawa em dialeto) resiste heroicamente, insistindo naquilo que lhe é mais precioso, a singularidade de sua cultura e do verdadeiro espírito “utinanchú”. Com toda certeza foi esse o legado que o imigrante Yoshio deixou para os filhos, a rica cultura de Okinawa, que atravessa séculos de forma indelével, sendo transmitida de geração em geração.

Kato, Nilo


“Meu avô veio imigrante para o Brasil em 1914. Deixou os pais em Fukushima e veio acompanhando uma outra família em busca de prosperidade. Tinha idéia de aqui ganhar dinheiro e trazer o resto da família. Infelizmente não foi possível. Ele nunca mais viu os pais.”
(Nilo Kato)


“No Japão nos sentíamos pássaros na gaiola, aqui no Brasil estamos livres, é muito bom poder estar de volta. Viver aqui é muito melhor.”
(Nilo Kato)




A província de Fukushima pertencia à província histórica de Mutsu. Esta região do Japão é também conhecida como Michinoku ou Oshu. E foi de lá que o jovem Nenokiti Kato veio aos 14 anos, com a cabeça e o coração recheados de sonhos em busca de uma terra próspera. Foram dois meses em alto-mar, uma viagem cheia de expectativas divididas com todos os imigrantes daquele navio que aportou em Santos em 1914. “Meu avô era muito menino. Ele imaginava que estando no Brasil conseguiria abrir portas e trazer os pais também. Ou quem sabe, ganhar muito dinheiro e voltar abastado para o Japão. Infelizmente nada disso aconteceu. Chegando aqui, foi trabalhar na lavoura na região de São Paulo, enfrentando as dificuldades da língua, clima, costumes, preconceito”, conta Nilo Kato, neto de Nenokiti e filho de Mituo, segundo filho do imigrante.
Nilo e a esposa, Suely, residiram no Japão e retornaram ao Brasil em 2004. O casal tem uma história de sucesso e de delícias produzindo sabores irresistíveis que encantam os olhos e o paladar, deliciosamente suaves e incomuns, preparados com absoluta dedicação, delicadeza e arte, como o próprio significado do nome Hachimitsu: mel de abelha! “Eu sei da luta dos meus pais para nos criar e dar estudos. Um exemplo que vem lá de trás, iniciado com meus avós”, revela o empresário, que desfruta da companhia dos pais. “Minha mãe, Mamiko, hoje aos 69 anos, e meu pai, Mituo, aos 73, estão aposentados e com saúde. Hoje são os filhos que trabalham. Eles já fizeram muito”, brinca.
Mamiko e Mituo tiveram 10 filhos: Osvaldo, Nilo, Odílio, Silvia, Vilma, Cezar, Jamil, Renato, Márcia e Mônica. “Nascemos em Assaí, onde meu pai tinha um sítio. Fomos criados lá. E só viemos para Londrina na idade de estudar. Na cultura japonesa sempre é o filho mais velho que dá continuidade ao trabalho do pai. Porém, meu tio, o primogênito, quis trabalhar no comércio e deixou o legado da fazenda para o meu pai, que trabalhou muito para dar estudos aos filhos.
Nilo herdou do pai o mesmo empenho e é um dedicado empresário, soube arriscar e agora, depois de 3 anos, tem colhido bons frutos. “Vai dar certo e eu consigo, este é um lema para que as coisas andem rumo a um bom lugar. Se no tempo dos meus avós e pais era tudo mais precário e difícil e eles conseguiram, por que eu não conseguiria? É preciso acreditar naquilo que se faz, ter dedicação, se cercar de conhecimento e informação. E nunca ser negativo”, conclui. O casal Suely e Nilo tem um filho, Hugo Hideki Kato, nascido em Hiroshima, em 1995. Os avós maternos de Nilo são Ivazo e Tetsuyo Sato.

Kishima, Marina Okuyama
















“Ao conhecer as raízes da minha família, me surpreendi ao saber que a carreira de professor tem tradição na família por várias gerações, desde o meu tataravô que foi professor no sistema feudal e fundou uma escola de ensino fundamental no ano 6 da era Meiji.”
(Marina Okuyama Kishima)



Shizuo Okuyama tinha 12 anos quando desembarcou no Porto de Santos. Era uma criança aguçada pela curiosidade de vir morar num país com cultura, clima, idioma e tradição completamente diferentes daqueles vividos na Província de Yamagata, conhecida por suas deliciosas cerejas, situada ao nordeste do Japão, onde a região consiste 70% de montanhas.
Era a manhã fria de 25 de maio de 1922 quando Shizuo e o irmão Shiro e a esposa desceram as escadas do navio e pela primeira vez pisaram o solo brasileiro. Deixavam para trás uma história de vida para recomeçar outra, recheada de saudades dos pais, Tiuzaburo e Riya Okuyama, que ficaram no Japão esperando o retorno dos filhos tão logo fosse possível. “Meu avô era professor em Yamagata e minha mãe tinha um pequeno comércio. Eles ficaram no Japão crendo na prosperidade dos filhos aqui no Brasil, assim como centenas de imigrantes. Quando desembarcaram no Porto de Santos, meu pai, meu tio e a esposa foram para a Fazenda Santa Maria, em Sampaio Vidal, no interior paulista, onde trabalhararam como colonos na lavoura de café. Depois foram para Promissão, permanecendo de 1923 a 1929, quando se mudaram para o Paraná. Foram morar em Santa Mariana, lá ficando de 1929 a 1940. Começaram a prosperar e compraram as próprias terras. Meu pai casou-se com a minha mãe, Yoshimi Okuyama, em 1933. Em 1940 eles mudaram-se para Londrina e foram morar num sítio adquirido pelo irmão Shiro, na Gleba Frazer”, relata Marina Okuyama Kishima, filha de Shizuo e Yoshimi.
Yoshimi Satake Okuyama também veio para o Brasil sem os pais, Kikue e Kuranoske Satake, que permaneceram no Japão. Ela tinha 15 anos e viajou na companhia de uma prima casada. Chegaram ao Brasil em 23 de maio de 1930. “Minha mãe foi trabalhar numa fazenda em Franca, no interior de São Paulo, e se mudou para Santa Mariana onde conheceu meu pai”, relata.
Marina Okuyama Kishima formou-se em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina e fez residência em Patologia no Hospital do Servidor Público de São Paulo. Fez mestrado em Medicina Interna no Hospital Universitário e atua como patologista e professora da disciplina de Anatomia Patológica na UEL. “Nasci em 1956 e meus pais tiveram onze filhos: eu, que sou a mais nova, Oscar, Joana, Lauro, Juliana, Catarina, Jorge, Luiza, Rosa, Rui e Cecília. Meu pai faleceu em 1993, com 84 anos, e minha mãe, em 1996, com 81 anos. Eles deixaram um legado de tradições, principalmente religiosas. Conservamos o santuário (obutsudam), onde mantenho os cuidados e os rituais aprendidos e praticados pela minha mãe e sogra. E enquanto meus pais e sogra eram vivos, nós falávamos em japonês”, relembra.
Marina tem fortes recordações dos pais vivos e que foram os protagonistas de uma história marcada por muita luta, determinação e trabalho. “Meu pai contava que quando ele e o irmão Shiro foram migrar para o Brasil, o outro irmão, mais velho, ao se despedir disse: ‘Nunca se esqueçam que a atitude diária de vocês está ligada à nossa casa, ao nosso país, portanto, mesmo em situações difíceis, não se esqueçam do orgulho de serem japoneses, nada façam para prejudicar a imagem da nossa família que é de educadores tradicionais.” Ensinamento que tem sido praticado de geração a geração da família Okuyama e que hoje tem extenso número de membros. “Meus pais tiveram os netos Ivan Marcos, Karin Lecy e Kátia Regina Okuyana, Sérgio, Arnaldo, Vera Lúcia e Ângela Cely Tudida, Cláudio Eduardo, Ana Cristina e César Augusto Okuyama, Hélcio, Henry e Érica Matsuguma, Patrícia e Raquel Okuyama, Rodrigo, Vinícius e Rafael Fugii, Mariana e Luiz Felipe Kishima. E os bisnetos Adriano e Arissa Tutida, Eric e Diego Vanzella, Thiago Okuyama Uehara, Luciano Okuyama Rocha, Alice e Camile Okuyama, Aline e Gabriela Matsuguma, Beatriz, Izabel e Julia Matsuguma e Melissa Okuyama de Ros.”